UFG descobre que cera de ouvido ajuda no diagnóstico de câncer

UFG descobre que cera de ouvido detecta câncer  Bernadete Alves
Nelson Roberto Antoniosi Filho, da UFG,  coordenador da nova fronteira no diagnóstico de câncer: a cerumenograma

Viver com qualidade, prazer e menos doenças é o desejo de todos nós. Para ter isso é importante praticar exercícios físicos, ingerir alimentos saudáveis, ter estilo de vida saudável, hidratar o corpo e evitar o álcool, tabagismo, obesidade, estresse, insônia e sedentarismo, dentre outros fatores de risco.

Em saúde, fatores de risco são quaisquer situações que provocam o aumento da probabilidade de surgimento de doença ou agravo de saúde. Por isso a importância de fazer exames preventivos regularmente. Só quem está doente sabe o que representa um diagnóstico precoce. Para o diagnóstico precoce do câncer, além de aprimorar a consciência da população sobre a doença, é preciso aumentar políticas públicas de rasteio e a capacidade diagnóstica.

UFG descobre que cera de ouvido detecta câncer  Bernadete Alves
UFG descobre uma nova fronteira no diagnóstico de câncer: a cerumenograma

A Universidade Federal de Goiás sai na frente com a descoberta de uma nova fronteira no diagnóstico de câncer: a cerumenograma.  A equipe do Laboratório de Métodos de Extração e Separação (Lames) da Universidade Federal de Goiás, comandada pelo pesquisador Nelson Roberto  Antoniosi Filho,  desenvolveu a técnica para diagnosticar o câncer por meio de análise da cera de ouvido.

O novo exame, simples e barato, fica pronto em cinco horas e é capaz de detectar a doença ainda no estágio inicial. Os achados foram publicados numa das mais importantes revistas especializadas do mundo, a Scientific Reports.

Segundo os pesquisadores da UFG, a cera tem uma ação antibactericida, de proteção da região contra a entrada de corpos estranhos e contem  informações importantes sobre o organismo. “A cera é um produto de secreção que concentra aquilo que é uma impressão digital do que as nossas células produzem. Então, quando a cera é produzida, ela tem ali componentes que podem ter sido produzidos por células saudáveis e por células cancerosas”, explica o coordenador da pesquisa da UFG, Nelson Antoniosi.

UFG descobre que cera de ouvido detecta câncer  Bernadete Alves
João Marcos Gonçalves Barbosa e Nelson Roberto Antoniosi Filho (à direita), coordenador da nova fronteira no diagnóstico de câncer: a cerumenograma

A pesquisa do laboratório de química da Universidade Federal de Goiás identificou 27 substâncias que, se estiverem presentes na cera do ouvido, indicam a existência de câncer em alguma parte do corpo. Cento e dois voluntários participaram do estudo. Com amostras do tamanho de um grão de arroz foi possível identificar quem estava doente. Nelson Antoniosi explica que foi possível identificar a doença porque o metabolismo da célula cancerosa é diferente do das células normais. “Algumas substâncias aumentam, surgem ou diminuem em metabolismos com a doença. Queremos caracterizar perfis químicos para cada subtipo de câncer.”

Nelson Antoniosi começou a investigar a composição química do cerúmen (cera de ouvido) com objetivo de diagnosticar doenças em conjunto com sua orientanda, a pesquisadora egípcia Engy Shokry, em 2014. A dupla, que trabalhou com detecção de intoxicações e diabetes, passou a apurar variações químicas presentes no cerúmen de animais com câncer. Com a evolução do estudo para humanos, um universo de 102 amostras foi analisado – 51 de indivíduos saudáveis e 51 de doentes – e a taxa de precisão com que o câncer foi corretamente apontado foi de 100%.

Além da precisão, Nelson Antoniosi enumera vantagens do cerumenograma: “Além de ser não invasivo, não são necessários gastos com uma nova tecnologia; nós aproveitamos um equipamento que já existe em vários institutos de pesquisa e demos a ele uma nova aplicação”. O custo esperado para o procedimento, caso seja adotado em larga escala, fica em torno de R$ 400 – abaixo dos gastos atuais com diagnóstico de câncer.

UFG descobre que cera de ouvido detecta câncer  Bernadete Alves
Equipe de pesquisadores do LAMES da UFG, responsáveis pela descoberta da nova fronteira no diagnóstico de câncer: a cerumenograma

Segundo o pesquisador, o próximo passo do Lames é apurar a técnica, que já é capaz de detectar qualquer tipo de câncer – carcinoma, linfoma e leucemia – em qualquer estágio. Nelson Antoniosi acredita que seja possível aprimorá-la para identificar o subtipo da doença – em qual órgão ocorrem. Para isso, os pesquisadores do Lames precisarão de muito mais do que 102 amostras. O objetivo é ampliar sua base para mais de setenta mil amostras.

Neste mês de Setembro, Nelson Antoniosi  apresentará a pesquisa na Universidade de Cambridge, Inglaterra, e em breve divulgará os resultados de outra pesquisa envolvendo cerumenograma em cães. Caso a tecnologia seja de fato adotada, poderá se tornar tão corriqueira quanto hemogramas, já que sua realização depende apenas da coleta do cerúmem com haste flexível com ponta revestida por algodão.

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Pesquisadores da Universidade Federal de Goiás descobrem uma nova fronteira no diagnóstico de câncer: a cerumenograma

Aliado às estratégias de prevenção, o diagnóstico precoce fornece ao paciente uma chance maior de cura e aumento de sobrevida, uma vez que possibilita a intervenção antes do desenvolvimento do câncer quando o tratamento é mais efetivo.Mesmo em países com sistemas de saúde implementados, o diagnóstico tardio é um entrave para o aumento do tempo de sobrevida e taxa de cura.

O Instituto Nacional do Câncer, estima que o número de novos casos da doença no Brasil chegue a 580 mil até o fim deste ano. Segundo os pesquisadores da UFG , com a doença diagnosticada mais cedo, os médicos ganham tempo pra analisar o tipo de câncer e definir o melhor tratamento.