Brasil exporta expertise com Bancos de Leite Humano
Estudos comprovam que a amamentação previne a fome e a desnutrição em todas as suas formas e garante a segurança alimentar dos lactentes, mesmo em tempos de crise e catástrofe e está associada a um melhor desempenho em testes de inteligência, renda mais alta e maior produtividade na vida adulta.
Segundo o Ministério da Saúde e os pediatras há benefícios da amamentação na prevenção de doenças como diabetes 1 e 2 nas crianças e câncer de mama nas mães. Tudo isso diminui os custos com tratamentos nos sistemas de saúde.
Com base nisso o Brasil investiu em Bancos de Leite Humano. A disseminação das vantagens do aleitamento materno e a criação de bancos de leite são causas abraçadas pela Fundação Oswaldo Cruz. Bancos de leite humano são casas de apoio à amamentação, onde mulheres recebem suporte para superar obstáculos que possam estar impedindo a amamentação. Caso isso não seja possível, pode-se obter leite para bebês sem mãe ou cujas mães não conseguem produzir leite.
No Brasil, há 232 bancos de leite humano em funcionamento. São Paulo é considerada a cidade do mundo com o maior número de unidades por metro quadrado, e Brasília é a única que pode ser considerada autossuficiente em leite humano.
A importância é tanta que o Brasil e países lusófonos instalaram recentemente no Rio de Janeiro, a Coordenação Técnica da Rede de Bancos de Leite Humano da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que funciona na Secretaria Executiva da Rede Brasileira de Leite Humano, na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O coordenador da Rede Global de Bancos de Leite Humano, João Aprígio Guerra de Almeida, informa que a cooperação entre o Brasil e esses países começou com Cabo Verde em 2008 e que o modelo brasileiro também é referência para Portugal.
Nesta segunda-feira (18), Angola inicia a implantação de uma rede de bancos de leite para apoio às mães com filhos em idade de amamentação. O país na costa ocidental da África é o 22º a tomar essa iniciativa com apoio e cooperação do Brasil, que iniciou a implementação de bancos de leite em meados da década de 1980 e pôs em funcionamento a sua própria rede nacional em 1998.

A cooperação é técnica e não envolve repasse de recursos. O apoio vai desde a elaboração de projetos, assessoria na escolha de hospitais participantes das redes locais, especificação de equipamentos e treinamento de pessoal como processamento de leite humano, práticas de aleitamento e gestão de banco de leite.
“O Brasil tem uma trajetória de 34 anos. E apesar de a gente falar de Brasil, a nossa heterogeneidade é muito grande. E se é grande hoje, era maior ainda naquela época”, afirma. Almeida ressalta que a rede brasileira foi pensada para atender a realidades diferentes e utiliza tecnologias de baixo custo.
Antes da rede, o Brasil já auxiliava Cabo Verde e Moçambique de forma bilateral. “Considerando os resultados extremamente positivos da ação em Cabo Verde ao longo dos primeiros anos, considerou-se importante buscar um fórum de articulação conjunta, multilateral, para desenvolver essa iniciativa”, afirma. “É um processo muito rico, porque a gente consegue discutir com todos ao mesmo tempo os alcances e os limites. Isso amplia os horizontes e a cooperação brasileira no continente africano”.
Segundo o pesquisador da Fiocruz, a amamentação é biologicamente determinada, porém, é socioculturalmente condicionada. “Aquilo que deveria ser regido pelas leis da biologia, de algum tempo para cá, tempo que coincide com a indústria de leite, as leis da biologia passaram a ser substituídas pelas leis de mercado.”
Com a rede de bancos de leite, o país vai dar assessoria técnica em questões como treinamento, escolha de equipamentos, execução de projetos e identificação das unidades de saúde ideais para as atividades. “Tudo em uma perspectiva de desenvolver competências locais e permitir que esses países tenham autonomia”, diz Almeida. Ele explica que a cooperação não inclui o compartilhamento do leite propriamente dito.
A Rede Global de Bancos de Leite Humano foi constituída a pedido da Organização Mundial da Saúde (OMS) e é coordenada pelo Doutor em Saúde Pública, João Aprigio Guerra de Almeida, pesquisador da Fiocruz.