UnB sequencia genoma do Coronavírus

Assim como cientistas no mundo inteiro, pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (IB/UnB) tentam entender as características do vírus que circula no Distrito Federal. A equipe de pesquisadores da UnB trabalha no Departamento de Biologia Celular da universidade e é composto pelos virologistas Fernando Lucas de Melo, Tatsuya Nagata, Bergmann Ribeiro, além do biomédico Ikaro Alves de Andrade.

A ciência tem agido com rapidez para dar respostas sobre o novo coronavírus. Até o final de março cientistas de todo o mundo já tinham publicado 642 estudos científicos sobre o vírus e a doença. Os estudos procuram entender a origem e a transmissão da doença, o genoma do novo coronavírus, formas de diagnóstico clínico, progressão da pandemia e tratamentos.
Aqui em Brasília os acadêmicos da Universidade de Brasília foram os primeiros a sequenciar um genoma do novo coronavírus. Com autorização de um paciente, a amostra foi coletada em uma unidade do laboratório Sabin e analisada com o auxílio de insumos cedidos pela cientista Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IMT/FM/USP), os primeiros a sequenciar o genoma do vírus.
Segundo a cientista, sequenciamento é a leitura do genoma de um organismo. Todos os organismos vivos são compostos por DNA, ou RNA. Tanto um como outro são formados por um conjunto de letras (bases nitrogenadas) que funcionam como um código (palavras). Por exemplo, cada trinca de bases nitrogenadas – letras- representam um aminoácido, que nada mais é do que um bloquinho utilizado para construir as proteínas de um organismo. Portanto, como analogia, entenda-se que o genoma é o conjunto de palavras de um livro, que só pode ser lido se cada letra de cada palavra for corretamente identificada. No caso da coronavírus, seu genoma é de RNA.

A renomada cientista Ester Sabino reforça a importância de o Brasil ter uma rede fortalecida de pesquisadores para que descobertas científicas não se percam pelo caminho. “Não se sabe onde vai começar uma epidemia. Precisamos ter pesquisadores em todos os lugares.” A médica, professora e cientísta já pesquisou HIV, Zika e agora quer sequenciar o genoma da dengue.
Apesar de o feito ter sido alcançado em outras unidades da Federação e em outros países, a equipe foi a primeira a sequenciar o material genético do novo coronavírus no Distrito Federal. O processo permite, por exemplo, ter mais informações sobre como se dispersam os tipos que circulam no DF — uma vez que esses micro-organismos passam por constantes mutações — e ajuda a monitorar as variações deles. Um dos objetivos da equipe do Laboratório de Microscopia Eletrônica e Virologia é conseguir amostras de mais pacientes.

O professor titular do Departamento de Biologia Celular da UnB, Bergmann Ribeiro, diz que o conhecimento sobre o código genético dos vírus é uma maneira de acompanhá-los ao longo do tempo. É possível saber, por exemplo, quais proteínas são mais importantes para eles e até identificar drogas que possam enfraquecê-los. “Alguns deles conseguem sobreviver com mutações. Eles vão evoluindo no hospedeiro de maneira diferente. Os vírus cujas sequências você analisa vão variando em Brasília, na China, em São Paulo”, explicou o professor.
Bergmann lembra que há inúmeras pessoas trabalhando em projetos para tentar descobrir mais dados sobre o novo coronavírus e que a contribuição de cada uma delas é relevante. “Por isso, é importante investir em pesquisa. E ela não é barata. Os insumos (para o sequenciamento) custam R$ 6 mil”, comentou.
Os equipamentos necessários para a pesquisa no laboratório da UnB contou com apoio financeiro de diferentes agências de fomento à pesquisa. Para Bergmann, quanto mais recursos são repassados para o setor, mais eficientes serão os resultados. “Não se trata de um gasto. É um investimento. O retorno da ciência é paulatino e acontece à medida que avançamos no conhecimento. Além disso, é importante o governo estar preocupado com políticas públicas e com o aspecto social. Não basta ser só o dinheiro”, completou.
O virologista destaca que esse estudo é fundamental para que se entendam os vínculos que surgem entre quem se contaminou. “Consigo dizer, por exemplo, se a epidemia em Brasília começou de um único caso ou de casos diferentes.” Por isso, segundo ele, o incentivo à pesquisa é necessário.

“As pessoas às vezes acham que alunos de mestrado e doutorado estão só estudando. Óbvio que sim, mas, enquanto aprendem, eles produzem. Eles são uma mão de obra, na verdade super barata, para fazer pesquisa no Brasil. E são essas pessoas que a gente forma hoje que vão enfrentar crises do futuro. Se você reduz esses investimentos de pesquisa, você não vai sentir isso agora, mas vai sentir daqui a 20 anos, quando as pessoas deixarem de se formar”, destacou.