Insensatez coloca em risco a saúde e a democracia brasileira

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Neste domingo 19 de abril, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, em meio à pandemia do coronavírus e das recomendações sanitárias da OMS de isolamento, se aglomeraram sem máscaras, em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília, contra as medidas de isolamento, pelo fechamento do STF e Congresso Nacional e pró- intervenção militar no Brasil.

Insensatez coloca em risco a saúde e a democracia brasileira - Bernadete Alves

Para conter as centenas de pessoas, um cordão de isolamento de forças de segurança, sem equipamentos contra o contágio, teve de ser montado de última hora com a chegada do presidente Bolsonaro.

Aos gritos de “mito”, “queremos intervenção” e “a nossa bandeira jamais será vermelha”, os simpatizantes do presidente portavam bandeiras do Brasil e faixas com dizeres como “Intervenção militar com Bolsonaro” pedidos por um novo Ato Institucional 5, que inaugurou o período mais brutal da ditadura. No protesto também pediam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).

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O presidente Jair Bolsonaro, em cima da carroceria de um veículo policial acenou para os manifestantes e discursou:  “Eu estou aqui porque acredito em vocês. Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil. Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção no Brasil, têm de ser patriotas e acreditar e fazer a sua parte para que nós possamos colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou, acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder. Mais do que o direito, vocês têm obrigação de lutar pelo país de vocês. Contem com seu presidente para fazer tudo aquilo que for necessário para que nós possamos manter a nossa democracia e garantir aquilo que há de mais sagrado entre nós, que é a nossa liberdade. Todos no Brasil têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro. Tenho certeza: todos nós juramos um dia dar a vida pela Pátria e vamos fazer o que for possível para mudar o destino do Brasil. Chega da velha política. Agora é Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, discursou ele.

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Presidente Jair Bolsonaro na manifestação deste domingo 19 de abril em Brasília

Enquanto o mundo chora a morte de milhares de vítimas desta guerra viral e o medo toma conta do coração das pessoas, a insensatez de alguns coloca em risco a saúde e a democracia. Os manifestantes novamente desconsideraram  as recomendações sanitárias da OMS e fizeram questão de divulgar a carreata e a fala do presidente no Dia do Exército em suas mídias sociais.

A mensagem, na frente ao QG do Exército  tencionou  o ambiente institucional e político. Vinte dos 27 governadores divulgaram prontamente uma carta em defesa da democracia, contra o AI-5 e apoio ao Supremo e Congresso Nacional.

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Presidente Jair Bolsonaro

Os ministros do STF Luis Roberto Barroso e Gilmar Mendes e o presidente da OAB Nacional Felipe Santa Rosa e o ex-presidente FHC  se manifestaram imediatamente ao ocorrido.

O ministro Barroso postou no Twitter: “Só pode desejar intervenção militar quem perdeu a fé no futuro e sonha com um passado que nunca houve. Ditaduras vêm com violência contra os adversários, censura e intolerância. Pessoas de bem e que amam o Brasil não desejam isso”, escreveu Barroso.

“É assustador ver manifestações pela volta do regime militar, após 30 anos de democracia. Defender a Constituição e as instituições democráticas faz parte do meu papel e do meu dever. Pior do que o grito dos maus é o silêncio dos bons (Martin Luther King).”

O ministro Gilmar Mendes disse: “A crise do #coronavirus só vai ser superada com responsabilidade política, união de todos e solidariedade. Invocar o AI-5 e a volta da Ditadura é rasgar o compromisso com a Constituição e com a ordem democrática”, publicou o ministro Gilmar Mendes no Twitter.

O presidente da OAB Felipe Santa Cruz disse: “O presidente da república atravessou o Rubicão. A sorte da democracia brasileira está lançada, hora dos democratas se unirem, superando dificuldades e divergências, em nome do bem maior chamado LIBERDADE!”, postou Felipe Santa Cruz no Twitter.

O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso disse: “É hora de união ao redor da Constituição contra toda ameaça à democracia”.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, também se manifestou:  “O mundo inteiro está unido contra o coronavírus. No Brasil, temos de lutar contra o corona e o vírus do autoritarismo. É mais trabalhoso, mas venceremos. Em nome da Câmara dos Deputados, repudio todo e qualquer ato que defenda a ditadura, atentando contra a Constituição”.

A Associação dos Juízes Federais do Brasil e várias associações representativas da Magistratura Brasileira, também liberaram nota pública em defesa da democracia e de uma especial atenção para a pandemia da Covid-19.

“A Associação dos Juízes Federais do Brasil e as demais associações representativas da Magistratura Federal Brasileira, pedem que as autoridades públicas se unam em torno do bem maior que é a preservação da paz em nossa sociedade, evitando polêmicas desnecessárias que possam gerar sérias crises institucionais.

A República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho, da livre iniciativa e o pluralismo político.

O respeito à democracia, à independência dos poderes e à Constituição Federal é o único caminho para o desenvolvimento de uma sociedade livre, justa e solidária. Juízes e Juízas federais não admitirão qualquer retrocesso institucional ou o rompimento da ordem democrática.”

Lideranças políticas também criticaram o discurso do presidente Jair Bolsonaro na manifestação que pedia o fechamento do Congresso e intervenção militar em Brasília. Os políticos classificaram como “grave”, “incentivo à desobediência” e “escalada antidemocrática” a atitude de Bolsonaro de ir a um protesto antidemocrático e de incentivar a aglomeração de pessoas.

O ex-ministro Bruno Araújo, presidente do PSDB, afirmou que Bolsonaro coloca em risco a democracia e desmoraliza a Presidência: “O presidente jurou obedecer à Constituição brasileira. Ao apoiar abertamente um movimento golpista, ele coloca em risco a democracia e desmoraliza o cargo que ocupa. O povo e as instituições brasileiras não aceitarão”.

Fotos: Sergio Lima/AFP