Marco da Caravana da Integração Nacional celebra 62 anos

Brasília é um museu a céu aberto. Em cada canto a história da construção da cidade pode ser revivida como é o caso do Marco da Caravana de Integração Nacional, instalado há 62 anos.
A caravana foi idealizada pelo major José Edson Perpétuo, primo e ajudante de ordens do então presidente Juscelino Kubitschek e uniu todos os fabricantes de automóveis do Brasil que cederam veículos, motoristas e mecânicos para transportar as pessoas até à futura capital do País.
O movimento foi uma viagem de contornos épicos, que teve a participação de 287 expedicionários em 130 carros, caminhões e ônibus que saíram dos quatro cantos do País e rodaram mais de 6 mil quilômetros por estradas de terra.
A ideia era, como diz o nome, a integração: o governo JK criou a noção de um País integrado pela construção de estradas, pela ampliação de aeroportos e por uma marcha para o interior.
No dia 2 de fevereiro de 1960, engenheiros, políticos, jornalistas, operários e aventureiros, chegaram à Brasília para celebrar a obra de JK e exigir a implementação do transporte rodoviário no País. Era a “pré-inauguração” de Brasília.
O feito histórico marcou época não só pelo ineditismo de uma ação tão complexa e grandiosa, mas por usar uma frota com apenas veículos nacionais na estrada. A turma do Sul percorreu 2,3 mil quilômetros saindo de Porto Alegre. A do Oeste partiu de Cuiabá e rodou 1,1 mil quilômetros até Brasília.

A coluna Leste teve largada oficial no Rio de Janeiro, sob o olhar de Juscelino na porta do Palácio do Catete, então sede do governo federal, para um percurso de 1,2 mil quilômetros; Foram três dias de asfalto, mas a maioria dos integrantes já estava rodando desde São Paulo. “A bandeira saía do Rio de Janeiro em automóveis brasileiros, com pneumáticos brasileiros, petróleo brasileiro para trefegar por estradas asfaltadas com asfalto brasileiro”, comemorou JK naquela ocasião
A caravana do Norte foi a que mais rodou –, e, disparado, foi a que enfrentou mais problemas: percorreu os 2,2 mil quilômetros de uma Belém-Brasília ainda em construção. Foi uma sequência de atoleiros e contratempos numa via sem a menor infraestrutura durante dez dias de chuvas ininterruptas.
As dificuldades enfrentadas eram tantas – em caminhos muitas vezes abertos às pressas – que por onde passaram com seus caminhões, jipes e ônibus, os expedicionários eram recebidos como heróis. Carros de passeio não fizeram parte do comboio da Coluna Norte que, diante de tantas dificuldades, recebeu o título de “Operação Tartaruga.”
Havia de tudo que fabricavam na época: Rural e Jeep Willys (este, inclusive, o primeiro carro a percorrer as obras da cidade com Lúcio Costa e Israel Pinheiro), DKW, Kombi, Fusca, Simca Chambord, Toyota Land Cruiser, caminhões Mercedes, Chevrolet, International e até ônibus Caio com chassi FNM. Os paulistas trouxeram os veículos mais pitorescos: nada menos que 25 Romi-Isetta, carrinhos pequenos em tamanho e potência que fizeram um enorme sucesso.

Ao chegarem em Brasília foram recepcionados pelo presidente JK que desceu de helicóptero e recebeu dos diretores da Mercedes-Benz, na coluna Leste, a bandeira do Brasil.
A partir dali, o ex-presidente passou a liderar o cortejo em cima de uma Romi-Isetta conversível. O grupo de automóveis brasileiros e 287 expedicionários desfilou pelas ruas da Brasília ainda não inaugurada.

Uma viagem épica que merece ser relembrada – e ter seu marco notado por todos que passarem pela Esplanada, entre a Catedral e o bloco L do Ministério da Educação.

Para eternizar aquele momento foi construída entre as vias S1 e N1, na Esplanada dos Ministérios, uma cruz de 2 metros de altura,feita em metal com os pontos cardeais identificando o Norte, o Sul, o Leste e o Oeste de um cruzeiro chamado Brasil.
A estrutura simboliza a expansão da malha rodoviária e a implantação da indústria automobilística em Brasília.
Para celebrar estes 62 anos o monumento foi revitalizado pelo Colégio Ciman, da Octogonal e reinaugurado neste domingo dia 6 de fevereiro. No local foram exibidas imagens da caravana e exposição de carros, ônibus e caminhões antigos de colecionadores. Depois, os participantes seguiram em passeata da Catedral de Brasília até o Setor Militar Urbano.
O evento teve o apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e do Governo do Distrito Federal (GDF), e contou com a Comissão Organizadora formada pelos colecionadores de veículos antigos Bernardo de Barros e Flávio Noronha, e por representantes da Novacap.
O professor Bernardo de Barros Moreira, colecionador de ônibus antigos do Distrito Federal, afirma que o evento faz um resgate histórico. “A ideia é fazer uma movimentação de importância para a história de Brasília”.
“Esperamos que as pessoas valorizem o simbolismo do monumento e preservem essa história incrível, que faz parte de Brasília”, diz Bernardo de Barros.
A ideia dos organizadores é futuramente reproduzir o movimento de 1960. “Estamos organizando uma nova caravana em setembro, unindo todo o País. Ainda estamos vendo como será feito, mas já adianto que será épico”, informa Barros.
Fotos: Arquivo Público, Bernardo de Barros/ Reprodução