Acervo inédito do Alto Xingu em cartaz no Museu da República em Brasília

A galeria principal, do Museu da República, é palco de uma mostra de fotos inéditas de expedição ao Alto Xingu, em 1957, de interesse histórico e etnográfico.
A exposição “Xingu 57: viagem ao Brasil Central” reúne imagens feitas pelo biólogo Domiciano Dias, 93 anos, que acompanhou expedição do sertanista Orlando Villas-Bôas (1914-2002) ao Alto Xingu em 1957, no Mato Grosso. Eles seguiram os cursos dos rios Xingu e Liberdade, atingindo a região onde hoje é o Parque Indígena.

A mostra abre nesta sexta-feira, dia 18 e vai até 22 de março com entrada gratuita. É composta por mais de 100 imagens em preto e branco e algumas em cores, fruto de negativos descobertos pelo neto de Domiciano, Oto Reifschneider. Bacharel em história, mestre em sociologia e doutor em ciência da informação pela UnB, ele percebeu o achado como documentos de valor histórico e etnográfico. É também dono de uma galeria de arte e faz curadorias há mais de dez anos.
“É com alegria que tornamos público esse registro dos povos xinguanos. Ele ajuda a compor um retrato desses povos da floresta, e também do caminho percorrido por aqueles que estiveram a seu lado. Foram 10 anos de conversas, estudos e encontros para melhor preparar e apresentar esses registros de meu avô , hoje com 93 anos de idade”, diz Oto.

Domiciano Dias e Villas Bôas desceram os rios Xingu e Liberdade e chegaram ao coração da região onde hoje fica Parque Indígena do Xingu.
Além das fotos, a mostra “Xingu 57: viagem ao Brasil Central” reúne objetos indígenas e uma extensa bibliografia. A exposição traz ainda os bastidores do período em que os irmãos Villas Bôas angariavam apoio para a criação do Parque do Xingu, o que ocorreu em 1961, ao mesmo tempo em que faziam contato com diversos povos.

Em relato de Domiciano, documentado pelo neto, o biólogo fala da empreitada: “Havia apenas o silêncio, os rastros dos animais nos barrancos de areia, os índios. Era ainda um território selvagem, você se perdia. Foram semanas de caça, de travessias por nuvens infernais de borrachudos, semanas na selva”.

Domiciano fez os registros fotográficos amadores alternando duas das câmeras mais modernas na época, as alemãs Exakta e Leica. “A Exakta foi bastante utilizada por pesquisadores e cientistas. Para quem não conhece o que foi a fotografia no século 20, eu diria que a Leica é o equivalente ao que é hoje a marca Apple. ”
“O Museu Nacional da República está comprometido com a diversidade na cultura visual. Por isso, expomos esse acervo inédito de Domiciano Dias com grande entusiasmo“, diz a diretora do MUN, Sara Seilert.

Na exposição ‘Xingu 57: viagem ao Brasil Central’, as pessoas poderão ver imagens dos deslocamentos da equipe de sertanistas na selva e de indígenas das etnias Xavante, Mehinako, Kuikuro, Aweti, Txucarramãe, Juruna e Yawalapiti.
Visitação: de terça a domingo, das 9h às 18h30 até o dia 22 de maio.

Fotos: Domiciano Dias, Divulgação e Marcello Casal Jr/Agência Brasil