Proclamação da República:personagens da história e reflexos até os dias atuais

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Proclamação da República: General Deodoro da Fonseca em Bocayuva, na rua do ouvidor, Rio de Janeiro, 1889. Gravura segundo desenho de Veridiano de Carvalho.

O Brasil celebra neste 15 de Novembro o feriado de Proclamação da República, data regulamentada pela Lei Federal 662, do presidente Eurico Gaspar Dutra. Há 133 anos Dom Pedro II foi retirado do trono, marcando o fim da monarquia no país.


A Proclamação da República do Brasil, ocorreu na Praça da Aclamação, atual Praça da República, na cidade do Rio de Janeiro, naquele momento capital do Império do Brasil, no ano de 1889.


Aconteceu pela tomada do poder por meio de um grupo de militares do Exército brasileiro, liderados pelo Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, que destituiu o imperador e assumiu o poder. A proclamação foi o resultado da união de elites do país e que resolveram romper com Pedro II, quando o mesmo já encontrava-se politicamente fragilizado, em um período de crise econômica e grande mobilização de negros escravos por todo o país. No dia seguinte, Dom Pedro II partiu com a família em exílio para a Europa.


Naquele período, como hoje, havia partidos, lutas, grupos, conflitos. As elites insatisfeitas pela Abolição da Escravatura se uniram aos militares e apoiaram a retirada de Dom Pedro II do trono. Essa elite política via na República a chance de ocupar o protagonismo que a organização monárquica impedia.


Significado de República hoje

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15 de Novembro: Dia da Proclamação da República


A palavra República, tem origem no latim (Res = coisa + Pública = de todos). Hoje a sociedade brasileira, diferente dos anos de 1989, é muito mais complexa e organizada. Encontra-se em uma economia superior, e nosso país tem muito maior importância do que tinha nos anos de 1889. Por isso, também, a República atualmente contém um significado constitucional e democrático, significando: coisa de todos. Algo que deve ser de conhecimento de todos, e representar o interesse da maioria.


Também, no cenário, atual, sabemos que o Brasil passa por um processo de transição política com uma disputa que envolve diversos setores de classe e do Estado. Há muita briga e confusão nas redes sociais com ataques pessoais, e pouco debate de idéias.

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Solenidade de troca da Bandeira do Brasil na Praça dos Três Poderes, Brasília

Neste momento em que muitos ainda propagam o ódio e a discórdia no país, mais do que nunca é fundamental defendermos a Cidadania e o Estado Democrático de Direito e recuperarmos os valores republicanos: justiça, igualdade, liberdade e bem-estar social. Que tenhamos cada dia mais um país menos desigual e mais democrático.


República significa, pelo bem do povo e pelo bem público. Então, é preciso defendê-la e preservá-la. Viva a República do Brasil.

Muitas histórias são contadas sobre a proclamação da República do Brasil, e que foi atribuída ao Marechal Deodoro da Fonseca, e todas elas têm sempre personagens brancos ilustres. Mas a maioria dos livros omite a participação igualmente protagonista que diversos negros tiveram em momentos importantes de nossa história.

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José do Patrocínio: tigre da abolição e personagem da proclamação da República


Neste 15 de novembro, vamos lembrar um desses personagens que, segundo relatos de renomados historiadores, foi quem tomou a iniciativa, antes do Marechal Deodoro, de proclamar a República. Ele era um jornalista negro e se chamava José do Patrocínio.


Além de jornalista, Patrocínio era escritor e farmacêutico. Na época da proclamação também era vereador. De acordo com o livro 1889, do jornalista Laurentino Gomes, foi ele quem tomou a iniciativa de proclamar a República, por volta das 18h, perante um grupo reunido na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, enquanto Marechal Deodoro da Fonseca ainda elaborava a mudança de regime.


O livro conta que Deodoro estava doente, destituiu o ministério e promoveu um desfile de tropas pela capital demonstrando um levante militar. No entanto não proclamou o novo regime. Ainda segundo a publicação, no calor do momento da revolta, o escritor e político Aníbal Falcão foi até o jornal de Patrocínio para que fosse escrita uma moção pública abolindo a monarquia. Foi esse documento feito por Patrocínio e lido no plenário da Câmara que colocou fim à monarquia.


José do Patrocínio foi uma das figuras mais emblemáticas na luta abolicionista brasileira e sua participação na proclamação da República mudou o curso da nossa história.


Conheça o personagem da Proclamação da República


José do Patrocínio nasceu em 1825 na cidade de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, do ato violento de um padre branco contra uma mulher escravizada de 15 anos de idade. Como era comum acontecer, não foi assumido pelo pai, que o enviou para crescer como homem livre e uma de suas fazendas.


Teve acesso a boas escolas públicas e começou a dar aulas particulares na idade adulta para conseguir sobreviver. Foi em uma dessas aulas que conheceu sua futura esposa, Maria Henriqueta, filha de um militar que frequentava o Clube Republicano, entidade que apoiava a adoção de uma República em lugar ao regime monárquico.


Eles se casaram e tiveram filhos, mas sua vida privada não é muito conhecida. Sabe-se apenas que um de seus filhos também se tornou jornalista e que o casal, durante toda a sua vida, recebeu ataques públicos racistas pela cor da pele de Patrocínio.


Segundo o historiador Henry Guimarães, Patrocínio se reuniu com importantes figuras negras da época e, juntos, criaram uma das maiores campanhas para a libertação dos escravizados, a Confederação Abolicionista, resultando na assinatura da Lei Áurea, em 1888.


De acordo com a Enciclopédia Negra, Patrocínio tinha uma retórica cativante e conseguia prender a atenção de grandes multidões quando falava e, como já escrevia para o jornal Gazeta de Notícias, um dos maiores da época, pediu um empréstimo ao pai de sua esposa, o militar Emiliano Rosa de Sena, e comprou o jornal para si, assumindo uma luta pública contra a escravidão.


Patrocínio reuniu ao seu redor um grupo de jornalistas e oradores
que, ao lado de André Rebouças, deu origem à Confederação Abolicionista, em 1880. Esta agremiação ajudou a manter vivo o quilombo do Leblon e, por meio de comícios em teatros e manifestações em praça pública, financiou e acolheu escravizados fugitivos.


A redação do jornal servia como sede da Confederação e coordenou as ações da luta abolicionista que se espalhava no território nacional. Por toda a sua atuação nessa lutam, ficou conhecido como o Tigre da Abolição.


Além de ser uma das figuras mais importantes dos movimentos abolicionista e monarquista no país, José do Patrocínio foi ainda um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, onde ocupou o assento nº 21. José do Patrocínio morreu aos 51 anos no dia 30 de janeiro de 1905 de tuberculose.


Reflexos da Proclamação da República até os dias atuais


Com a Proclamação da República, marechal Deodoro da Fonseca assumiu como primeiro presidente do Brasil. O país se tornou um Estado laico e o presidencialismo tornou-se o sistema de governo.


A organização da república tomou forma quando foi promulgada uma nova Constituição no ano de 1889. A professora titular da Universidade Federal de Juiz de Fora Cláudia Viscardi diz que, mesmo com as constantes ameaças à República e à democracia, a proclamação trouxe mais participação popular e garantiu uma política de massas.


Entre 1964 e 1985 o Brasil viveu uma ditadura militar “e uma nova República precisou ser construída”. A Nova República esforçou-se para assegurar um ambiente de liberdade democrática, sobretudo com a promulgação da Constituição de 1988.


“Olhando retroativamente, podemos considerar que houve um erro de avaliação quando se decidiu não apurar os crimes de agentes do Estado durante o regime de exceção, como fez a Argentina. Isso, a meu juízo, deu razão para que as novas gerações ignorassem ou não considerassem graves os crimes cometidos pelo Estado entre 1964 e 1985 ”, diz o professor de História e Atualidades José Paulo Costa.


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