“Fraternidade e fome”, tema da Campanha da Fraternidade 2023

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou, na Quarta-feira de Cinzas, 22 de fevereiro, a Campanha da Fraternidade de 2023, com o tema: “Fraternidade e fome”, juntamente com o lema “Dai-lhes vós mesmo de comer” (Mt 14,16), incentivando assim as comunidades a assumirem suas responsabilidades ante a situação da fome que persiste no Brasil, a exemplo do Mestre Jesus.
Lançada em 1964, a Campanha da Fraternidade é um modo de a igreja celebrar o tempo da Quaresma, com oração, jejum e caridade, associados à reflexão e ação sobre um tema específico. É a terceira vez que a emergência sobre o enfrentamento à fome é o tema da Campanha da Fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

A quaresma, segundo o secretário-geral da CNBB, Dom Joel Portella Amado, é um tempo litúrgico pedagógico de 40 dias para que os cristãos e católicos sejam pessoas de conversão. “O amor a Deus nos conduz ao amor ao próximo e a nós mesmos. O mundo todo precisa passar por um tempo de Quaresma e conversão”.
Dom Joel Portella Amado, que também é bispo auxiliar do RJ, dedicou a celebração às pessoas que experimentam a realidade da fome, aos atingidos e vítimas das chuvas no litoral Norte de São Paulo, guerras, catástrofes e situações de violência.
“O Brasil enfrenta o flagelo social e humanitário da fome, fenômeno que demonstra a incapacidade de um país em oferecer para seus filhos e filhas as condições necessárias para satisfazer o seu instinto de sobrevivência e desenvolvimento como pessoa. Quando a sobrevivência não é atendida é a morte que acontece. Assistimos recentemente o que está acontecendo com os Yanomami”, exemplificou Dom Joel.
“Mais do que apenas constatar, compreender e denunciar a triste e vergonhosa atual situação de fome no Brasil, a Campanha da Fraternidade nos convida ao agir, a fazer o que for possível, para que essa triste situação seja extinta. A Campanha da Fraternidade nos insere numa situação de maior urgência no agir”, disse dom Joel.
Enfrentar a fome e a miséria que assolam o povo brasileiro é um dos principais desafios. Mais de 33 milhões de brasileiros e brasileiras estão em situação de fome no país, de acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.
Esse flagelo é também a preocupação do Papa Francisco que enviou aos fiéis brasileiros uma mensagem para o início da Quaresma e da Campanha da Fraternidade 2023. Os objetivos, segundo a CNBB, são lançar luz ao problema e buscar fomentar ações, em todos os níveis, para minimizar os impactos desta realidade na vida do povo brasileiro.
O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, por meio das redes sociais, comentou que a campanha da CNBB deste ano “não poderia estar mais conectada com nossos esforços para o Brasil, fraternidade e combate à fome. É a missão que todos nós teremos que construir e trabalhar juntos, por um país menos desigual, com mais amor e direitos”.

No auditório dom Helder Câmara e conduzida pelo assessor do Setor de Campanhas da CNBB, padre Jean Poul Hansen, foi apresentada a Mensagem do Papa Francisco aos católicos do Brasil.
Queridos irmãos e irmãs do Brasil!
Todos os anos, no tempo da Quaresma, somos chamados por Deus a trilhar um caminho de verdadeira e sincera conversão, redirecionando toda a nossa vida para Ele, que “amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Ao preparar-nos para a celebração dessa entrega amorosa na Páscoa, encontramos na oração, na esmola e no jejum, vividos de modo mais intenso durante este tempo, práticas penitenciais que nos ajudam a colaborar com a ação do Espírito Santo, autor da nossa santificação.
Com o intuito de animar o povo fiel nesse itinerário ao encontro do Senhor, a Campanha da Fraternidade deste ano propõe que voltemos o nosso olhar para os nossos irmãos mais necessitados, afetados pelo flagelo da fome. Ainda hoje, “milhões de pessoas sofrem e morrem de fome. Por outro lado, descartam-se toneladas de alimentos. Isto constitui um verdadeiro escândalo. A fome é criminosa, a alimentação é um direito inalienável” (Discurso no encontro com os Movimentos Populares, 28/X/2014).
A indicação dada por Jesus aos seus apóstolos “Dai-lhes vós mesmos de comer” ‹Mt 14, 16) é dirigida hoje a todos nós, seus discípulos, para que partilhemos — do muito ou do pouco que temos — com os nossos irmãos que nem sequer tem com que saciar a própria fome. Sabemos que indo ao encontro das necessidades daqueles que passam fome, estaremos saciando o próprio Senhor Jesus, que se identifica com os mais pobres e famintos: “eu estava com fome, e me destes de comer… todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” ‹Mt 25, 35.40).
É meu grande desejo que a reflexão sobre o tema da fome, proposta aos católicos brasileiros durante o tempo quaresmal que se aproxima. leve não somente a ações concretas — sem dúvida, necessárias — que venham de modo emergencial em auxílio dos irmãos mais necessitados, mas também gere em todos a consciência de que a partilha dos dons que o Senhor nos concede em sua bondade não pode restringir-se a um momento, a uma campanha, a algumas ações pontuais, mas deve ser uma atitude constante de todos nós, que nos compromete com Cristo presente em todo aquele que passa fome.
Desejo igualmente que esta conscientização pessoal ressoe em nossas estruturas paroquiais e diocesanas, mas também encontre eco nos órgãos de governo a nível federal, estadual e municipal, bem como nas demais entidades da sociedade civil, a fim de que, trabalhando todos em conjunto, possam definitivamente extirpar das terras brasileiras o flagelo da fome. Lembremo-nos de que “aqueles que sofrem a miséria não são diferentes de nós. Têm a mesma came e sangue que nós. Por isso, merecem que nina mão amiga os socorra e ajude, de modo que ninguém seja deixado para trás e, no nosso mundo, a fraternidade tenha direito de cidadania” (Mensagem para o Dia Mundial da Alimentação, 16/X/2018, n. 7)
Confiando estes votos aos cuidados de Nossa Senhora Aparecida e como penhor de abundantes graças celestes que auxiliem as iniciativas nascidas a partir da Campanha da Fraternidade, concedo de bom grado a todos os filhos e filhas da querida nação brasileira, de modo especial àqueles que se empenham incansável- mente para que ninguém passe fome, a Bênção Apostólica, pedindo que continuem a rezar por mim.
Franciscus

Ações do governo Lula para enfrentar a fome
Logo após tomar posse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva editou uma medida provisória para garantir o pagamento de R$ 600 para mais de 21 milhões de famílias beneficiárias do programa de transferência de renda vigente no país. Trata-se da primeira medida de enfrentamento à fome e à miséria no Brasil.
Nesta quarta-feira (22), em entrevista ao jornal O Globo, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT), revelou que o presidente Lula estuda uma forma de aumentar o valor atual do Bolsa Família para além dos R$ 150 adicionais aos R$ 600 já pagos aos beneficiários do programa com crianças de até seis anos.
Fotos: Reprodução