Cientistas se unem em rede global para combater doenças negligenciadas

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Com o intuito de obter tratamentos seguros e eficazes para a doença de Chagas, leishmanioses e malária, doenças parasitárias transmitidas por mosquitos e que acometem pessoas que vivem em países de baixa renda, em desenvolvimento, renomados cientistas se unem em uma rede global de colaboração.

Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas e da Universidade de São Paulo, assinaram na sexta-feira (29), em São Paulo, um acordo com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com a iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) e a Medicines for Malaria Venture (MMV), para cooperação e financiamento de novos medicamentos para doença de Chagas, leishmaniose visceral e malária.

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O gerente de Pesquisa & Desenvolvimento da DNDi, Jadel Müller Kratz, diz que o grande diferencial do consórcio é a criação de uma rede internacional, multidisciplinar, autossustentável e pensada a partir das necessidades das populações dos países endêmicos. “Trata-se de um esforço conjunto pelo mesmo propósito: obter tratamentos seguros e eficazes para a doença de Chagas, leishmanioses e malária”.

O consórcio garantirá investimentos de R$ 43,5 milhões em cinco anos; sendo R$ 7,8 milhões da Fapesp, R$ 12,8 milhões da DNDi e da MMV e R$ 22,9 milhões em infraestrutura de pesquisa e custos de pessoal provenientes da Unicamp e da USP. Com a DNDi, o objetivo é entregar um composto de alta qualidade otimizado e pronto para desenvolvimento clínico, para o tratamento da doença de Chagas e leishmanioses. Busca-se, assim, seguir os perfis de produtos-alvo desenvolvidos pela DNDi e seus parceiros para garantir a entrega de um composto que satisfaça as necessidades dos pacientes.

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 Luiz Carlos Dias, professor do Instituto de Química da Unicamp

O coordenador geral do consórcio internacional , Luiz Carlos Dias, professor do Instituto de Química da Unicamp, diz que “o consórcio vai ultrapassar fronteiras internacionais e levar à consolidação de um modelo de parceria global que contribui com a inovação, o avanço do conhecimento na área de descoberta de novos medicamentos para doenças parasitárias tropicais, a aceleração dos cronogramas de pesquisa e o compartilhamento de dados”, disse Dias.

O professor Luiz Carlos Dias explica que doenças negligenciadas são as doenças parasitárias transmitidas por mosquitos, são comuns em países da América do Sul, África e atingem pessoas com baixo poder aquisitivo, não despertam o interesse de grandes farmacêuticas para desenvolver novos medicamentos por ser um processo muito longo e tedioso que não oferece muito lucro às empresas.

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Segundo o professor Dias, o objetivo do consórcio é reunir a experiência internacional para chegar, em até cinco anos, a produtos que sejam eficazes, seguros e baratos e que possam ser usados por crianças abaixo de cinco anos e gestantes. “No caso da malária estamos observando a resistência dos parasitas aos antimalariais disponíveis no mercado. Visamos um tratamento em dose única, que elimine todas as formas do parasita do organismo em cinco a sete dias. É um desafio enorme, mas que nós decidimos enfrentar junto com a Medicines for Malaria Venture”, ressaltou o professor da Unicamp.

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De acordo com o coordenador Luiz Carlos Dias, o Brasil não tem tradição na área da descoberta de medicamentos, por isso, a parceria com a DNDi e o MMV é tão importante, já que ambas são compostas por profissionais de capacidade comprovada em descoberta de medicamentos e que já passaram por grandes farmacêuticas mundiais. “Trazemos essas pessoas para o Brasil. Nós temos expertise na área de síntese orgânica, química, biologia, química medicinal, mas descobrir medicamentos para essas doenças é realmente uma tarefa em colaboração que envolve muitas pessoas e experiência e é isso o que estamos fazendo”.

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Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP

Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, disse que a colaboração da Unicamp e USP com MMV e DNDi, ao mesmo tempo em que traz para São Paulo o desafio de pesquisa de descoberta de moléculas que sejam boas candidatas clínicas no combate a doenças negligenciadas e à malária, também abre o acesso ao acervo das organizações parceiras e a sua experiência na análise de tais moléculas. “A parceria  une pesquisa na fronteira do conhecimento e conectada a aplicações de enorme relevância social com formação de pesquisadores, importantes objetivos para o estado de São Paulo”, disse o diretor científico da FAPESP.

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A malária é causada por parasitas da família Plasmodiun e é transmitida pela picada de mosquito infectado. Em 2018, cerca de 200 mil casos de malária foram notificados no Brasil, segundo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. Em 2017, o número de pessoas afetadas registrou aumento de 53% em relação ao ano anterior.

A leishmaniose visceral é causada pelo protozoário Leishmania spp e transmitida pelas inúmeras espécies do mosquito-palha. Essa zoonose tem evolução crônica que pode ser letal, se não for tratada adequadamente. Dos casos registrados na América Latina, cerca de 90% ocorrem no Brasil.

A doença de Chagas é endêmica em 21 países da América Latina, e é a enfermidade parasitária que mais mata na região, segundo dados da DND – uma organização sem fins lucrativos de Pesquisa e Desenvolvimento. No total, 70 milhões de pessoas estão em risco em todo o mundo e cada vez mais cresce o número de pacientes em países não-endêmicos, como Estados Unidos e Austrália.

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Além da Unicamp e USP, fazem parte da rede global de colaboração cofinanciada por FAPESP, DNDi (iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas) e MMV (Medicines for Malaria Venture).

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo é uma das principais agências de fomento à pesquisa científica e tecnológica do país. Com autonomia garantida por lei, a FAPESP está ligada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Com um orçamento anual correspondente a 1% do total da receita tributária do Estado, a FAPESP apoia a pesquisa e financia a investigação, o intercâmbio e a divulgação da ciência e da tecnologia produzida em São Paulo.

A MMV foi fundada há 20 anos e é uma das principais parcerias para o desenvolvimento produtivo (PDPs) em pesquisa de antimaláricos. Sua missão é reduzir o ônus da malária nos países onde a doença é endêmica descobrindo, desenvolvendo e entregando novos medicamentos efetivos e a preços acessíveis. Desde a sua fundação, a MMV e seus parceiros desenvolveram e disponibilizaram 11 novos medicamentos que, segundo estimativas, salvaram cerca de 2,2 milhões de vidas.

iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DND i, na sigla em inglês) é uma organização sem fins lucrativos de Pesquisa e desenvolvimento (P&D) orientada pelas necessidades dos pacientes, que desenvolve tratamentos seguros, eficazes e acessíveis para milhões de pessoas em situação vulnerável que são afetadas por doenças negligenciadas, em particular a doença de Chagas, as leishmanioses, a doença do sono, o HIV pediátrico, a hepatite C, as filarioses e o micetoma.