Pílula que desvinculou ato sexual do efeito reprodutivo faz 60 anos

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A primeira pílula anticoncepcional aprovada nos Estados Unidos no dia 9 de maio de 1960, revolucionou hábitos sexuais e ajudou a consolidar a mulher no mercado de trabalho. No Brasil teve resistência cultural e religiosa e só passou a ser disponibilizado em 1962. Assim como usar minissaia era tabu, tomar anticoncepcional também era.

No início, o anticoncepcional era comercializado somente para mulheres casadas – e com autorização do marido. Mesmo assim as mulheres comemoraram porque a pílula representava autonomia para decidirem se queriam ou não ter filhos. Era a oportunidade de tomar as próprias rédeas do corpo e de ter controle sobre uma situação que até então era imposta pela natureza.

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O medicamento chamado Enovid, utilizado inicialmente para tratar desordens menstruais, se mostrou  seguro como contraceptivo. Assim foi aprovada a comercialização da primeira pílula de controle de natalidade do mundo pela agência federal Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos

A historiadora Mary Del Priore,autora do livro Histórias Íntimas: Sexualidade e Erotismo na História do Brasil, enfatiza o caráter revolucionário da pílula. “Numa época em que era comum ver mulheres conceberem sete, dez, até 12 filhos, obedecendo ao ‘crescei e multiplicai-vos’, a pílula revolucionou os hábitos sexuais”, diz.

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“O ato sexual deixou de servir exclusivamente à procriação. Abriu-se uma brecha no mandamento divino: doravante, a mulher poderia escolher entre ter ou não filhos. Era o fim de intermináveis gravidezes e de problemas que essas traziam: enfraquecimento progressivo da mãe e dos bebês”, declara a historiadora Del Priore.

A ginecologista Carolina Ambrogini, coordenadora do ambulatório de sexualidade feminina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diz que  “A pílula deu a possibilidade de a mulher poder escolher o momento da maternidade e, principalmente, desvinculou o ato sexual do efeito reprodutivo. Isso foi importante para a consolidação da mulher no mercado de trabalho e mudou toda a dinâmica familiar.”

Sessenta anos depois da aprovação da primeira pílula anticoncepcional, há diversos métodos contraceptivos hormonais que podem ser considerados evoluções do original.

Existem versões com muito menos efeitos colaterais que a primeira pílula porque têm uma dose hormonal muito mais baixa e usam menos ingredientes sintéticos. Há ainda outras maneiras de fazer com que os hormônios necessários para o efeito contraceptivo cheguem ao organismo da mulher: de adesivos a anel intravaginal.

A indústria tem desenvolvido métodos cada vez mais eficazes  para o bem-estar, saúde e  perfil de cada mulher mas ainda está longe de existir nas prateleiras das farmácias um método hormonal acessível ao público masculino.