“King Kong en Asunción” é eleito Melhor Filme e Andrade Júnior Melhor Ator no Festival de Gramado
A cerimônia de premiação do 48º Festival de Cinema de Gramado apresentada por Marla Martins e Renata Boldrini direto do Palácio dos Festivais, revelou na noite de sábado, os kikitos para as categorias competitivas de longas gaúchos, brasileiros e estrangeiros e curtas-metragens brasileiros.
Separados fisicamente, mas próximos graças à tecnologia, a edição multiplataforma foi uma grande celebração do cinema brasileiro e ibero-americano. Os concorrentes e o público acompanharam o evento pela internet e canais de TV do Rio Grande do Sul. Os atores, atrizes e diretores experimentaram novas sensações.
Neste 2020 os espectadores puderam acompanhar os 51 filmes concorrentes, entre longas e curtas, pelas telas do Canal Brasil e pelo serviço de streaming do Canal. O melhor filme desta edição recebe o Kikito e mais o prêmio de R$ 25 mil. As demais categorias recebem o Kikito + R$ 2 mil.
“King Kong en Asunción”, de Camilo Cavalcante, produção pernambucana rodada em países vizinhos ao Brasil, como Bolívia e Paraguai, foi o grande vencedor do festival. O longa conquistou o Prêmio de Melhor Filme na categoria de longa-metragem brasileiro, Melhor Ator para o brasiliense Andrade Júnior, Melhor Filme pelo Júri Popular e Melhor Trilha Musical.
Andrade Júnior, que protagoniza o filme, faleceu em 04 de maio de 2019 sem ver o resultado de todo o seu trabalho. O saudoso ator foi representado pela família na comunicação virtual.
Camilo Cavalcante disse que estava muito surpreso e agradecido à sua equipe e à família do ator Andrade Júnior. “Dedico este filme a Andrade Júnior. Ele é o sol desse trabalho”, disse o cineasta Cavalcante.
“Eu acho que cinema e arte não são corrida de cavalo, que tem o melhor ou o pior. Todos os filmes que foram apresentados tem o seu valor. Sem a arte a gente não tem sobrevive ao peso da vida. Seguimos com a vontade de construir um país e uma América Latina mais igual, mais justa e mais afetuosa… A gente está vivendo um momento surreal, de violência e de falta de tolerância do ser humano”, disse o cineasta Camilo Cavalcante.
O ator Andrade Júnior que adotou Brasília como sua cidade foi merecidamente premiado porque ele deu o seu melhor na interpretação de um matador de aluguel que depois de concluir sua última missão na região desértica de Salar de Uyuni se esconde no interior da Bolívia e em seguida decide ir atrás da filha que nunca conheceu.
Andrade Júnior, com mais de 100 produções na biografia, com participações relevantes no cinema nacional, estava onipresente no filme e onipresente nos corações dos fãs.
O artista em 2018 contracenou com Dira Paes na gravação do ainda inédito longa-metragem Pureza, dirigido por Renato Barbieri. Na obra, Andrade interpretou um senhor de escravos da era moderna.
A “Louca História de Andrade Junior”, um documentário dos cineastas Érico Cazarré e Victor Pennington, mostra a obra e vida do primoroso intérprete que foi Andrade Júnior. Destaque também para os filmes Defunto Vivo (1992), Tepê (1999), Macacos me Mordam (2005) Nada Consta (2007) e O Egresso (2011).
O longa “Por Que Você Não Chora?, da diretora brasiliense Cibele Amaral, também foi lembrado. A atriz Elisa Lucinda ganhou o Prêmio Especial do Júri por sua participação no filme.
O Kikito de Melhor Direção foi pata Ruy Guerra por “Aos Pedaços”. O filme levou ainda o prêmio de melhor fotografia para Pablo Baião, e melhor desenho de som, para Bernardo Uzeda.
“Quero agradecer a coragem de dar uma premiação a um filme como ‘Aos Pedaços’ que foge à regras, é um filme que nem todo jurado teria coragem de premiar. À minha equipe, que me ajudou a descobrir o filme que eu queria fazer. Foi um filme em que precisei de muitos talentos, e tive esses talentos. Mas também não posso deixar de falar da escuridão em que estamos vivendo. Um governo que dizima as populações indígenas e quilombolas. Um governo racista, que promove uma avalanche de destruição. Obrigada ao Festival por abrir essa janela por onde respiramos um pouco de ar puro”, agradeceu o consagrado diretor Ruy Guerra.
Melhor Atriz foi para Isabel Zuaa, por “Um Animal Amarelo”, de Fernando Bragança. Isabel recebeu a notícia de sua casa, em Portugal. Muito emocionada agradeceu e manifestou a admiração pelas atrizes brasileiras que disputaram com ela o Kikito 2020.
A história de um cineasta falido que mergulha em uma jornada pelo Brasil também é vencedora nas categorias , Melhor Direção de Arte para Dina Salem Levy, e Melhor Roteiro para Felipe Bragança.
Todos os Mortos, o longa de Caetano Gotardo e Marco Dutra, que aborda a história do Brasil a partir da perspectiva de pessoas escravizadas, venceu nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante, para Alaíde Costa, e Melhor Ator Coadjuvante, para Thomás Aquino.
O Kikito para Melhor Fotografia foi para Pablo Baião que falou: “É muito bonito ver o Festival de Cinema de Gramado se renovar. Eu vi todos os filmes, os filmes concorrentes são belíssimos. Há lindas fotografias e por isso sou mais honrado por ganhar esse prêmio. Muito obrigado por fazerem esse Festival. A gente vai continuar, o cinema vai viver. Vai sobreviver a esse governo que nos vê como inimigos”, finaliza Baião.
Rafael Carniel, presidente da Gramadotur, autarquia municipal responsável pela realização do Festival de Cinema de Gramado, disse que o Festival de Cinema de Gramado foi mantido em respeito a uma indústria que gera R$ 25 bi de faturamento, quase 2% do pib brasileiro.
“Qual o valor da indústria que muito além de gerar números, toca a vida das pessoas? No contexto de pandemia ela tem formado opiniões, tem tirado o mundo da ignorância, interrompido a cegueira sobre a realidade do outro. Qualificado, emocionado, aliviado a dor das pessoas”, declarou Carniel.
Fotos: Edison Vara / Agência Pressphoto