Nobel da Paz 2021 premia defesa da liberdade de expressão e da democracia

Na manhã desta sexta-feira, dia 8 de outubro, os jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitri Muratov, da Rússia, receberam o prêmio Nobel da Paz de 2021 em razão do trabalho que desenvolvem em defesa das liberdades de expressão e de imprensa. A distinção, em reconhecimento a feitos em prol da humanidade, é entregue desde 1901.
Profissionais das Flipinas e da Rússia ganharam o prêmio ‘pela corajosa luta’ em seus países. Academia Real das Ciências da Suécia afirmou que a liberdade de expressão é ‘pré-condição para a democracia e para uma paz duradoura’.
A academia afirmou que os jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitry Andreyevich Muratov, da Rússia, receberam o Nobel da Paz “pela corajosa luta” nas Filipinas e na Rússia e que a liberdade de expressão “é uma pré-condição para a democracia e para uma paz duradoura”.
“[Os vencedores] são representantes de todos os jornalistas que defendem este ideal em um mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas”, afirmou Berit Reiss-Anderson, presidente do Comitê Norueguês do Nobel, durante o anúncio da premiação.
Os dois jornalistas ajudaram a fundar veículos de comunicação independentes em seus países e vão dividir o prêmio de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,3 milhões).

Dimitri Muratov, de 59 anos, participou da fundação em 1993 do jornal russo independente Novaya Gazeta. Desde 1995, ele atua como editor-chefe do veículo que já teve mais de seis jornalistas assassinados.
O comitê destacou a resistência de Muratov, que se recusou a abandonar a política independente do jornal mesmo em meio às mortes e ameaças e que há décadas ele “defende a liberdade de expressão na Rússia, em condições cada vez mais desafiadoras”.
“O jornalismo livre, independente e baseado em fatos serve para proteger contra o abuso de poder, mentiras e propaganda de guerra. O comitê norueguês do Nobel está convencido de que a liberdade de expressão e a liberdade de informação ajudam a garantir um público informado”, afirmou a instituição.

Já Maria Ressa, de 58 anos, é uma das fundadoras e diretora-executiva da Rappler (rappler.com), agência de mídia digital especializada em Jornalismo Investigativo nas Filipinas.
O comitê do Nobel afirmou atribuir este prêmio à ex-jornalista da rede americana CNN por ela utilizar “a liberdade de expressão para expor o abuso de poder, o uso da violência e o crescente autoritarismo em seu país natal”.
Para eles, o trabalho desenvolvido por Ressa e pela Rappler demonstra a forma como as redes sociais são usadas para espalhar ‘fake news’, atacar oponentes e manipular o discurso público.
Maria Ressa é cofundadora e diretora-executiva da Rappler (rappler.com), uma empresa de mídia digital de jornalismo investigativo nas Filipinas.
Segundo a academia sueca, “Ressa usa a liberdade de expressão para expor o abuso de poder, o uso da violência e o crescente autoritarismo em seu país natal”.
A jornalista é alvo de uma série de processos judiciais e cyberbullying por publicar matérias críticas à gestão do presidente Rodrigo Duterte, tocando, inclusive, na polêmica luta contra o narcotráfico no país.
Em uma transmissão on-line, Ressa se diz emocionada pelo reconhecimento e afirmou que este “é o melhor momento para ser jornalista” porque “os momentos mais perigosos são também os momentos mais importantes. Nada é possível sem fatos”.
“Ressa e a Rappler mostram como as redes sociais são usadas para espalhar ‘fake news’, assediar oponentes e manipular o discurso público”, disse Berit Reiss-Anderson.

Os jornalistas se juntam, agora, a uma lista que tem instituições como Cruz Vermelha, IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e Unicef; e nomes como Malala Yousafzai, Jimmy Carter, Martin Luther King e Nelson Mandela. A distinção, em reconhecimento a feitos em prol da humanidade, é entregue desde 1901. O primeiro laureado foi o filantropo suíço Jean Henry Dunant, por seus esforços humanitários para ajudar soldados feridos ao cofundar a Cruz Vermelha, e o político francês Frédéric Passy, pela defesa da diplomacia.
Conheça os vencedores do Nobel da Paz de 1990 até agora

2021: Jornalistas Maria Ressa e Dmitri Muratov, pela defesa que fazem da liberdade de expressão, pré-requisito para a democracia e a paz duradoura
2020: Programa Mundial de Alimentos (PMA), por atuar como uma força motriz nos esforços para prevenir o uso da fome como arma de guerra e conflito
2019: O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, que assinou acordo de paz que pôs fim a duas décadas de hostilidades com a Eritreia
2018: O congolês Denis Mukwege e a iraquiana Nadia Murad, que denunciaram o uso da violência sexual como arma de guerra
2017: Campanha Internacional para Abolir Armas Nucleares (Ican), por chamar a atenção para o risco desses artefatos
2016: Juan Manuel Santos, então presidente da Colômbia, pelo acordo de paz assinado com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)
2015: Quarteto para o Diálogo Nacional da Tunísia, pela contribuição decisiva na construção de uma sociedade plural no país
2014: A paquistanesa Malala Yousafzai e o indiano Kailash Satyarthi, premiados pela defesa dos direitos das crianças e à educação
2013: Organização para a Proibição de Armas Químicas, sediada na Holanda, por sua defesa da proibição de armas químicas
2012: A União Europeia, por mais de seis décadas promovendo os direitos humanos e a paz na Europa
2011: As liberianas llen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee e a iemenita Tawakkol Karman, pela luta não violenta pela seguranças das mulheres e por seu direito de participação plena em processos de paz
2010: Liu Xiaobo, ativista chinês premiado por sua luta longa e não violenta pelos direitos humanos em seu país
2009: Barack Obama, então presidente dos EUA, reconhecido por reforçar a diplomacia internacional e a cooperação entre as pessoas
2008: Martti Ahtisaari, diplomata e ex-presidente da Finlândia, por seu trabalho na resolução de conflitos em vários continentes
2007: Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA, e o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), pelo trabalho para disseminar informações sobre os problemas ambientais
2006: O bengali Muhammad Yunus e o Grameen Bank, pelo trabalho para aumentar o desenvolvimento econômico para pessoas pobres na Índia e em Bangladesh
2005: Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e o egípcio Mohamed El Baradei, por seus esforços para evitar que a energia nuclear seja usada para fins militares e para garantir que a energia nuclear para fins pacíficos seja usada da maneira mais segura possível
2004: Wangari Maathai, ativista do Quênia, pela contribuição ao desenvolvimento sustentável, à democracia e à paz
2003: Shrin Ebadi, primeira juíza do Irã, por sua defesa dos direitos de mulheres e crianças
2002: O ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, por suas décadas de esforços para encontrar soluções pacíficas para conflitos internacionais
2001: A ONU e seu então secretário-geral, o ganês Kofi Annan, pela busca de um mundo mais pacífico
2000: Kim Dae-Jung, presidente da Coreia do Sul, por seu esforço para buscar a paz com a Coreia do Norte
1999: Médicos sem Fronteiras, pelo trabalho humanitário pioneiro
1998: Os norte-irlandeses John Hume e David Trimble, pelo esforço para conseguir a paz entre as Irlandas
1997: A ativista americana Jody Williams e a ICBL (Campanha Internacional para Banir Minas Terrrestres), por seu trabalho contra esse tipo de armadilha
1996: Os políticos Carlos Ximenes e José Ramos-Horta, por seus trabalhos para o acordo de paz no Timor Leste
1995: Joseph Rotblat, físico britânico, por seu esforço para eliminar as armas nucleares no mundo
1994: Yasser Arafat, então líder palestino, Shimon Peres, então ministro das Relações Exteriores de Israel, e o então premiê israelense Yitzhak Rabin, pelos esforços em busca da paz no Oriente Médio
1993: Nelson Mandela e Frederik Willem de Klerk, pelo trabalho para o fim do Apartheid na África do Sul
1992: A guatemalteca Rigoberta Menchú Tum, por sua luta pela justiça social e a reconciliação etno-cultural a partir do respeito aos direitos dos povos indígenas
1991: A política birmanesa Aung San Suu Kyi, por sua luta não violenta pela democracia e pelos direitos humanos
1990: O político russo Mikhail Gorbachov, pelo papel de liderança que desempenhou nas mudanças radicais nas relações Leste-Oeste
Fotos: Dmitry Muratov/Reuters e Reprodução Twitter/Prêmio Nobel