Exposição no CCBB Brasília celebra as raízes culturais do Nordeste e Ariano Suassuna

Em 18 de outubro de 1970, nascia em Pernambuco o Movimento Armorial, iniciativa criada pelo artista plástico, escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, para resgatar e valorizar as raízes culturais do Nordeste.


Mais do que um movimento, o armorial buscava ser um preceito estético, que partia das ideias de que é preciso criar a partir de elementos realmente originais da cultura popular do país, como os folhetos de cordel, os cantadores, as festas populares, entre outros aspectos.


Ariano Suassuna dizia: ‘Por que um artista brasileiro tem que olhar para o expressionismo, para a pop art? Por que ele não olha para as coisas brasileiras?’ E para ele, a grande referência era o cordel. Ele dizia que o cordel tinha tudo.


Para celebrar os 52 anos deste importante movimento, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília recebe, a partir de hoje uma mostra com obras de artistas que participaram do movimento.


A iniciativa é uma celebração da rica cultura nordestina, sempre presente na obra do artista. “O Auto da Compadecida”, e os personagens João Grilo e Chicó, são exemplos de obras e personagens da região levados ao sucesso no teatro e no cinema por Suassuna.


A mostra com figurino dos personagens, maracatu dos festejos populares, além de pinturas e xilogravuras de mestres famosos como J Borges e Gilvan Samico, que ilustram a literatura de cordel populares nas feiras, nas rodas de conversa e também nas histórias do mestre pernambucano, fica em cartaz até janeiro de 2023.


Entre as obras expostas, estão peças raras, como um painel e iluminogravuras pintados por Ariano Suassuna. As iluminogravuras são o conceito que o artista inventou para a junção da técnica de iluminuras, usadas em livros medievais, e a das gravuras impressas da xilogravura.


Há também uma reprodução gigante da Onça Caetana, personagem que o artista criou e desenhou para representar a morte.

Ariano Vilar Suassuna nasceu no Palácio da Redenção, na cidade de Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, capital da Paraíba, em 16 de junho de 1927. Filho de João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna, na época, governador da Paraíba, e de Rita de Cássia Dantas Villar foi o oitavo dos nove filhos do casal. Passou os primeiros anos de sua infância na fazenda Acahuan, no município de Sousa, no sertão do Estado.


Durante a Revolução de 1930, seu pai, ex-governador da Paraíba e então deputado federal, foi assassinado por motivos políticos, no Rio de Janeiro. Em 1933, a família muda-se para Taperoá, no sertão da Paraíba, onde Ariano iniciou seus estudos primários. Teve os primeiros contatos com a cultura regional assistindo as apresentações de mamulengos e os desafios de viola.


Em 1938, a família muda-se para a cidade do Recife, Pernambuco. Sua estreia na literatura se deu nas páginas do Jornal do Comércio, em 1945, com o poema “Noturno”.

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Raízes nordestinas em cartaz no CCBB Brasília celebra os 52 anos do Movimento Armorial, de Ariano Suassuna


Em 1946 ingressou na Faculdade de Direito do Recife, onde fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco, junto com Hermilo Borba Filho, entre outros. Em 1947, escreve sua primeira peça Uma Mulher Vestida de Sol. No ano seguinte escreve Cantam as Harpas de Sião. Em 1950, conclui o curso de Direito. Dedicou-se à advocacia e ao teatro.


Em 1955, Ariano escreve a peça O Auto da Compadecida que se enquadra na tradição medieval dos Milagres de Nossa Senhora, em que numa história mais ou menos profana, o herói em dificuldades apela para Nossa Senhora. Em estilo simples, o humor e a sátira une-se num tom caricatural, porém com sentido moralizante.

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Exposição no CCBB Brasília celebra 52 anos do Movimento Armorial, de Ariano Suassuna


Ariano traz uma visão cristã sem se aprofundar em discussões teológicas, denunciando o preconceito, a corrução e a hipocrisia. No dia 11 de setembro de 1956 estreia a peça no Teatro Santa Isabel. No ano seguinte, a peça é levada para o Rio de Janeiro e apresentada no 1.º Festival de amadores nacionais.


Em 1957 casa-se com Zélia de Andrade Lima, com quem teve cinco filhos. Permanece como professor até 1994, quando se aposenta, porém em 2008 volta a dar aulas na UFPE, no curso de Letras, ministrando a cadeira de Estética.

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Cultura nordestina está em cartaz no CCBB Brasília em homenagem ao Movimento Armorial de Ariano Suassuna


O defensor ferrenho da cultura do Nordeste do Brasil é autor das obras Auto da Compadecida, A Mulher Vestida de Sol, Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, foram transformadas em séries e filmes. Ariano Suassuna escreveu 15 livros entre romances e poesias e 18 peças de teatro.


Em 1989, Suassuna foi eleito para a cadeira n.º 32 da Academia Brasileira de Letras. Em 1993, foi eleito para a cadeira n.º 18 da Academia Pernambucana de Letra e em 2000, ocupou a cadeira n.º 35 da Academia Paraibana de Letras.

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Onça Caetana, personagem de Suassuna em exposição no CCBB Brasília em homenagem aos 52 anos do Movimento Armorial


Na administração pública foi secretário de Cultura de Pernambuco (1994-1998) e secretário de Assessoria do governador Eduardo Campos até abril de 2014. Ariano faleceu em Recife no dia 23 de julho de 2014, aos 87 anos, decorrente das complicações de um AVC hemorrágico.


Fotos: Reprodução