Tamanduá-bandeira albino, único conhecido no planeta, é encontrado no Cerrado brasileiro

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Tamanduá albino é encontrado no Cerrado brasileiro, em fazenda no Mato Grosso do Sul

O tamanduá-bandeira, mamífero tido como um dos símbolos da rica fauna do bioma, está em risco de extinção por causa da caça e também da constante destruição da vegetação que lhe serve como habitat.

Segundo o Instituto de Conservação de Animais Silvestres estima-se que, nos últimos 10 anos, a espécie tenha perdido 30% da população, que está presente em todo o Cerrado brasileiro, mas também em outras áreas na América do Sul.

Segundo pesquisadores do Icas, em agosto deste ano foi descoberto em uma fazenda particular na região de Três Lagoas, cidade a cerca de 330 km da capital, Campo Grande, um tamanduá albino com pelagem clara e olhos avermelhados junto com a mãe, que o carregava nas costas – a fêmea costuma cuidar do filhote por até 10 meses.

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Tamanduá-bandeira albino, encontrado no Cerrado brasileiro, está sendo monitorado por biólogos do Instituto de Conservação de Animais Silvestres

Agora, os seus passos são rastreados, de perto, e vão melhorar o nível de compreensão sobre o albinismo na espécie.

O albinismo é uma desordem genética que limita a produção de melanina, gerando animais com pelagem de coloração clara ou aloirada. Sua mãe, no entanto, tinha características comuns ao tamanduá-bandeira: pelagem acinzentada que serve para camuflar o animal em meio à vegetação do Cerrado.

Ele foi batizado com o nome de Alvin. A descoberta mobilizou pesquisadores do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS), que iniciou estudo científico sobre o bicho e sua adaptação ao Cerrado.

Segundo a bióloga Nina Attias, pesquisadora do ICAS, ele é o único tamanduá-bandeira albino conhecido no planeta e sua existência pode ajudar a explicar como o desmatamento do Cerrado afeta a espécie. Nesse contexto de risco, Alvin ocupa uma posição ainda mais rara: não há notícias de que existam outros albinos como ele.

A existência de Alvin está envolta em alguns mistérios que os cientistas vão tentar desvendar nos próximos meses. “Para um nascer albino, é necessária uma combinação dos genes do pai e da mãe. É uma questão de acaso mesmo, muito difícil de acontecer”, explica a bióloga Nina Attias.

Segundo a bióloga, a destruição do bioma pode levar à “endogamia” da espécie. Ou seja, com menos opções de parceiros para acasalar, os tamanduás teriam atingido um grau menor de diversidade genética, aumentando a chance de dois indivíduos albinos nascerem na mesma região em período curto de tempo.

O estudo sobre tamanduá Alvin também pode descobrir outro mistério: como um animal albino consegue sobreviver no Cerrado? Além de rara, a vida de Alvin não será nada fácil. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais no Mato Grosso do Sul, existem apenas 16% da vegetação original do Cerrado. O restante foi destruído, principalmente para dar lugar à agropecuária.

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Tamanduá Albino, único conhecido no planeta é encontrado no cerrado

Para proteger Alvin os cientistas colocaram um colar de monitoramento. Toda sua movimentação está sendo registrada. “A teoria ecológica fala que os bichos albinos têm mais dificuldades adaptativas e de sobrevivência. Ele sofre mais com o calor por causa da pelagem, e também é mais difícil para ele se camuflar na vegetação. Praticamente não existem dados sobre os desafios que os albinos enfrentam para sobreviver”, explica Attias.

Para Alvin, talvez seja mais difícil fugir dos grandes predadores, como as onças parda e pintada. Essa predação, inclusive, é importante para a vida no Cerrado: esses grandes carnívoros dependem da existência do tamanduá-bandeira para se alimentar.

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Tamanduá-bandeira: um dos símbolos da rica fauna do bioma corre risco de extinção

Como regra, os tamanduás-bandeira apresentam uma pelagem marrom-acinzentada, marcada por uma grande faixa preta de bordas brancas nas costas. Estas cores têm função dupla: ajudam o animal a se camuflar de possíveis predadores; e filtram os raios solares, garantindo melhor nível de conforto térmico.

Os tamanduás-bandeira são animais que se caracterizam pelo focinho longo e cilíndrico e uma cabeça pequena, garras grandes nas patas dianteiras, olfato bem desenvolvido, língua longa para conseguir capturar seu alimento que consiste basicamente em formigas e cupins, cauda grande com pelos grossos e compridos.

O tamanho destes animais varia entre 1,08 e 1,33 m sem considerar a cauda, o comprimento da cauda varia ente 65-90 cm e o peso na média é de 31 kg.

Fotos: Reprodução