Senado entrega Diploma Bertha Lutz para mulheres que deram contribuição relevante à defesa dos direitos e das questões de gênero

A luta das mulheres por mais respeito e direitos na sociedade foi destaque na entrega da 21ª edição do Diploma Bertha Lutz, no Dia Internacional da Mulher. Bertha foi pioneira na luta pelos direitos políticos das mulheres no nosso país e segue inspirando a buscar, cada vez mais, a representatividade feminina nos espaços de decisão e poder.
A homenagem no Plenário do Senado as sete personalidades brasileiras que deram contribuição relevante à defesa dos direitos e das questões de gênero no Brasil foi presidida pelo senador Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso Nacional.

Foram agraciadas: a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber; a socióloga e primeira-dama Rosangela da Silva, a Janja; a diretora-geral do Senado, Ilana Trombka; a cientista política Ilona Szabó, presidente do Instituto Igarapé; e a jornalista Nilza Zacarias, coordenadora da Frente Evangélica pelo Estado de Direito.
Também foi entregue o diploma, in memoriam, a Clara Filipa Camarão, uma indígena da etnia potiguara que liderou um grupo de mulheres contra as invasões holandesas no século XVII, em Pernambuco, e a jornalista Glória Maria, ícone da televisão brasileira.
A cerimônia foi prestigiada pelas ministras do Planejamento, ex-senadora Simone Tebet, da Saúde, Nísia Trindade, e da Gestão de Governo, Ester Dweck. Também contou com a ilustre presença da vice-primeira dama Lu Alckmin, senadoras e amigas.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, destacou o legado histórico da cientista e ativista Bertha Lutz, cuja luta teve impacto no Brasil e no mundo. “Bertha Lutz foi uma das poucas mulheres a participar da elaboração da Carta da Organização das Nações Unidas em 1945. Em evento dominado por homens, a brasileira liderou a luta para que os direitos das mulheres estivessem contemplados. Incluiu no preâmbulo e no artigo 8 uma referência específica à igualdade de direitos de homens e mulheres. Foi graças a Lutz que se garantiu a igualdade na participação de homens e mulheres nos diversos órgãos da ONU”.
O senador falou que naquela época era visto com naturalidade que a mulher tivesse toda sua vida dedicada às tarefas domésticas. E lembrou a postura vanguardista de Lutz, para quem “o lar não cabe no espaço de quatro muros. Lar também é a escola, a fábrica, a oficina, é acima de tudo o Parlamento, onde se votam as leis que regem a família e a sociedade”.

Pacheco disse estar preocupado com o aumento das mais diversas formas de violência contra as mulheres verificado na sociedade brasileira nos últimos anos. “Uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revela que todas as formas de violência contra a mulher cresceram em 2022. Um cenário trágico, em que diariamente uma média superior a 50 mil mulheres são vítimas de violências e uma mulher a cada seis horas é morta por ser mulher. Grandes obstáculos persistem no atingimento da igualdade de gênero, como a diminuição da sub-representação política, a redução nas desigualdades do mercado de trabalho e o combate à violência, que tem dados alarmantes, uma quantidade inaceitável de feminicídios”.

A ministra Rosa Weber citou uma das referências no estudo da história brasileira, a escritora e professora Mary Del Priore, ao abordar o machismo estrutural que marca séculos de formação da nossa sociedade.

“Lembro o registro de Del Priore de que a questão feminina no Brasil permaneceu excluída da própria História como disciplina até a década de 1970. O espaço era demarcado por representações masculinas dos historiadores que produziam com exclusividade a reconstituição da história, o longo evoluir das conquistas femininas no tocante à igualdade de gênero e à resistência das mulheres, sobretudo sob a ótica das relações de poder. Mesmo no espaço forense, condutas e atos discriminatórios são indicativo seguro de que sequer o Judiciário é imune à cultura de subjugação e desqualificação do feminino que impregna a sociedade”, disse a presidente do STF.


A socióloga Janja da Silva ressaltou as dificuldades que as mulheres enfrentam na política, criticou as manifestações de ódio e machismo estrutural que infestam as redes sociais e revelou que sofre mais ataques que o presidente Lula.

“Cada uma das mulheres aqui — ministras, senadoras, deputadas, assessoras — sabe das dificuldades do dia a dia da política. Eu mesma tenho sido o principal alvo de mentiras, ataques à honra e ameaças nas redes sociais, até mais que o presidente Lula. Sei que muitas de vocês também passam por isso, pela mesma terrível experiência de ver seu nome, seu corpo, sua vida expostos de forma mentirosa”, lamentou a primeira-dama do país.

A jornalista Nilza Zacarias disse ver com preocupação a infiltração de movimentos político-partidários nas igrejas evangélicas. Para ela, os religiosos são historicamente um segmento de vanguarda na sociedade brasileira, e esse legado deve ser levado em conta.
“A religiosidade brasileira está mudando, e não ocorre porque eu quero. Eu que sempre fui crente, nasci nos anos 1970 quando éramos 5% da população. Não imaginava nunca que chegaríamos a 30%, 40% de evangélicos no país e que, chegando a esse patamar, seria tão complicado, tão difícil. A fé evangélica é a fé da reforma, uma fé de vanguarda que ajudou na construção da educação pública, que ensinou camponeses a ler e que deu destaque ao papel da mulher na comunidade religiosa, dentro das comunidades. Não imaginava que essa fé pudesse vir a se tornar alvo de disputas políticas e ideológicas”, afirmou a jornalista.

Ilona Szabó relatou as diversas parcerias do Instituto Igarapé em todo o país com movimentos sociais liderados por mulheres — grande parte delas vivendo em situação de grave vulnerabilidade. “A atuação do Instituto Igarapé se estende às questões das mulheres presas e egressas [de presídios], às questões de gênero e políticas de drogas, ao Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, à proteção das mulheres defensoras do meio ambiente, em especial na Amazônia. É preciso lembrar o papel fundamental das lideranças femininas hoje, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, na proteção do meio ambiente, na defesa dos povos tradicionais e na promoção do desenvolvimento sustentável. Elas tem pago um preço muito alto e precisam de proteção”

A diretora-geral do Senado, Ilana Trombka, destacou a vanguarda das bandeiras feministas de Bertha Lutz. “Bertha era uma mulher, antes de tudo, livre, em todos os aspectos da vivência humana. E a principal liberdade de Bertha era não ter limite em seus sonhos nem na força para pô-los em prática. Esse é o grande legado que Bertha nos deixa: é de que podemos sonhar o que quisermos”.


Fotos: Geraldo Magela e Edilson Rodrigues/Agência Senado e Antonio Cruz/Agência Brasil