Paulo José, mestre das coisas visíveis e invisíveis, morre aos 84 anos

É com pesar que registro o falecimento do gigante artista Paulo José, aos 84 anos, em decorrência de uma pneumonia. O brilhante ator e diretor deixa esposa e quatro filhos: Ana Kutner, Bel Kutner e Clara Kutner, de seu casamento com a atriz Dina Sfat, além Paulo Henrique Caruso do seu casamento com a atriz Beth Caruso.
Paulo José era um dos maiores artistas da dramaturgia de todos os tempos e dono de uma voz marcante. Ele era um artista que conquistava o público pela carisma e sua história. Seus personagens eram profundos e leves ao mesmo tempo, típicos de quem se entrega na arte de encantar o público. Um mestre das coisas visíveis e invisíveis que fazia o impossível parecer simples. Um gigante plantador de sonhos que deixou muitas sementes, descobriu talentos e inspirou centenas de pessoas.

Ao longo de mais de 60 anos de carreira, atuou em mais de 20 novelas e minisséries. Sempre ativo e atuante, mesmo depois de descobrir o mal de Parkinson, doença que o acompanhou por mais de 20 anos, Paulo José sempre esteve preocupado com a valorização do ofício de ator no Brasil, sendo nome de destaque na luta pela regulamentação da profissão no final dos anos 70.

Sua última e mais emocionante aparição na TV foi como o vovô Benjamin na novela Em Família (2014), de Manoel Carlos. Como na vida real, seu personagem sofria de mal de Parkinson.

A Globo em nota, destaca a importância do ícone das artes. “Um dos maiores nomes da nossa dramaturgia, como ator e diretor, e também dono de uma voz marcante, Paulo José é daqueles artistas de quem o público sempre se sentiu próximo. Nas últimas décadas, entrou em nossas casas por meio de uma infinidade de personagens que ficam, assim como ele, para a história”.

Paulo José Gómez de Souza nasceu em Lavras do Sul, interior do Rio Grande do Sul, em 20 de março de 1937. Teve o primeiro contato com o teatro ainda na escola, iniciando a carreira no teatro amador anos mais tarde, em Porto Alegre. No início dos anos 60, Paulo José foi morar em São Paulo e começou a trabalhar no Teatro de Arena, onde exerceu diferentes funções. A primeira peça em que trabalhou como ator foi Testamento de um Cangaceiro, de Chico de Assis, em 1961.
Paulo José estreou no cinema em 1966 no filme ‘O Padre e a Moça’, no papel do padre. Depois não parou mais.

- ‘Todas as Mulheres do Mundo’, em 1967
- ‘Edu, Coração de Ouro’, em 1968
- ‘Macunaíma’, em 1969,
- ‘Cassy Jones, o Magnífico Sedutor’, em 1972
- ‘O Rei da Noite’, em 1975
- ‘Anahy de las Missiones’, em 1997
- ‘Policarpo Quaresma, Herói do Brasil’, em 1998
- ‘Faca de Dois Gumes’, em 1989
- ‘Dias Melhores Virão’, em 1990
- ‘Dias de Nietzsche em Turim’, em 2001
- ‘O Homem Que Copiava’,em 2003
- ‘Benjamim’, em 2003
- ‘O Vestido’, em 2003
- ‘Saneamento Básico, o Filme’ ,em 2007
- ‘Pequenas Histórias’, em 2007
- ‘A Festa da Menina Morta’, em 2008
- ‘Juventude’, em 2008
- ‘Insolação’, em 2009
- ‘Quincas Berro D’água’, em 2010
- ‘O Palhaço’, em 2011
- ‘Meu País’, em 2011

Estreou na Globo como ator na novela Véu de Noiva, de Janete Clair, em 1969. Seu primeiro grande personagem foi o mecânico-inventor Shazan, que formava uma dupla bem humorada com Xerife, personagem de Flávio Migliaccio, na novela O Primeiro Amor (1972), de Walther Negrão. A dobradinha fez tanto sucesso que deu origem ao seriado Shazan, Xerife e Cia, escrito, dirigido e interpretado por Paulo e Flávio entre 1972 e 1974.

Outros personagens marcantes foram o comerciante cigano Jairo em Explode Coração (1995), de Gloria Perez, e o alcoólatra Orestes de Por Amor (1997), de Manoel Carlos.


A presença do gaúcho Paulo José era tão iluminada que sua partida enfraquece as palavras. Falta adjetivos e sobra admiração. Obrigada por sua grandeza, querido conterrâneo. Siga na luz e descanse em paz, Mestre dos Mestres. Bravo!!!
Fotos: Fernando Frazão/Agência Brasil, Arquivo TV Globo e Reprodução