Dia de São Valentim: a lenda do mártir do amor

bernadetealves.com
Dia dos Enamorados é celebrado em 14 de fevereiro

Celebra-se neste 14 de fevereiro o Dia Mundial do Amor em referência a São Valentim, o mártir do amor. A data que é comemorada desde os finais do século V d.C., ganhou o significado atual, transformando-se no Valentine’s Day – Dia dos Namorados.


Também conhecido como o Dia Internacional do Amor e Dia dos Enamorados, a data não faz parte de nenhum calendário oficial. Simplesmente se popularizou e ganhou o mundo e gera muitos negócios. O Valentine’s Day foi capitalizado pelas empresas, que veem nessa data do ano uma excelente oportunidade para aumentar suas vendas.


No Brasil a data não vingou e o Dia dos Namorados é comemorado em 12 de junho devido ao sucesso de uma campanha publicitária de 1948 que visava aquecer as vendas de uma loja no mês de junho onde as vendas eram fracas e o dia atendeu a razões religiosas: é que 12 é véspera do Dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro.

bernadetealves.com
Valentine’s Day – 14 de fevereiro

O publicitário responsável pela campanha que deu origem ao “Dia dos Namorados” no Brasil foi João Doria, pai do empresário, ex-prefeito e atual governador de São Paulo, João Dória Júnior. A campanha feita para a loja de roupas e acessórios Exposição Clipper, que ficava na Praça do Patriarca, no centro da capital paulista, tinha o seguinte slogan: “Não é só com beijos que se prova o amor!”.


A campanha foi um sucesso absoluto em São Paulo e logo se espalhou por todo o país. É por isso que, contrariando o mundo inteiro, comemoramos o Dia dos Namorados em 12 de junho, e não em 14 de fevereiro.


Como o Dia de São Valentim espalha energia e amor vamos aproveitar o 14 de fevereiro para nos enamorar pela vida. Que tal assumir um compromisso irreversível com a decisão de ser feliz aqui, agora e sempre?

Origem do Dia de São Valentim


O Dia de São Valentim recorda a data em que o bispo Valentim foi executado, depois de desobedecer o imperador romano Marco Aurélio Cláudio II (214-270) e ter continuado a celebrar casamentos de combatentes solteiros. Segundo o imperador, os solteiros apresentavam melhor desempenho nas batalhas e não tinham receio de arriscar a vida e se casassem perderia a coragem.


Segundo o estudioso de hagiografias Thiago Maerki, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e associado da Hagiography Society, dos Estados Unidos, há nos registros de santos do catolicismo, onze de nome Valentim. E pelo menos três deles pregavam mensagens de amor.


“O Valentim de Roma, tem mais a ver com a história de um médico que se fez sacerdote e, contrariando a lei do imperador, seguiu realizando casamentos de soldados.”


O Martirológio Romano, onde estão as biografias dos santos, é sucinto. No dia 14 de fevereiro, há a menção a São Valentim seguida da breve explicação de que ele teria sido martirizado “em Roma, na Vila Flamínia, junto à ponte Mílvia”. Mais nada.


Também conta-se que um religioso recortava corações de pergaminho e entregava aos soldados, para que esses olhassem para tais cartões e relembrassem de suas amadas.

bernadetealves.com
A comemoração de São Valentim em Hanói, no Vietnã, neste 14 de fevereiro de 2022

Thiago Maerki lembra que a figura celebrada no dia 14 de fevereiro é tão rica em controvérsias, diante da impossibilidade de confirmar o que é fato e o que é mito, a própria Igreja Católica achou por bem retirá-lo do calendário litúrgico tradicional, ainda nos anos 1960, após o Concílio Vaticano 2º.


O pesquisador e estudioso da vida de santos José Luís Lira, fundador da Academia Brasileira de Hagiologia e professor da Universidade Estadual Vale do Aracaú, do Ceará, diz que “o missal anterior ao Concílio Vaticano 2º também não traz detalhes, mas indica que Valentim era presbítero e mártir, e que seu martírio ocorreu por volta do ano 270”.


Segundo ele o que definiu o imaginário sobre São Valentim foi a literatura orar e escrita. “Lendas em torno deles vão sendo criadas, como era costume desses primeiros cristãos. A voz do povo é que foi celebrando seus santos. E esses cultos, tradições populares, vão ganhando força na Idade Média. Até que o que não era oficial acaba sendo reconhecido pela Igreja, que não tem outra saída senão assumir a tradição como oficial”, comenta Lira.


Em meio a tantas contradições de fontes diferentes, podemos concluir que o “Santo do Amor” viveu na Roma do terceiro século da atual era, diz o pesquisador.

bernadetealves.com
Casal chinês comemora o Valentine’s Day em Yantai

Segundo o vaticanista Filipe Domingues, doutor pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e vice-diretor do Lay Centre em Roma, a data de 14 de fevereiro como data de sua morte possivelmente se trata de uma invenção tardia. Conveniente invenção, aliás, em um processo imposto pela Igreja, quando se tornou religião oficial, a partir do século 4º, com o objetivo de sistematicamente absorver e ressignificar práticas pagãs.


“Mesmo com o cristianismo já oficializado, no começo os rituais hoje chamados pagãos, dos romanos, conviviam com o cristianismo. Não é uma mudança de uma hora para a outra, as pessoas tinham suas tradições”, diz o doutor Filipe Domingues. “A Igreja daquela época foi aos poucos criando festas, memórias e práticas para suprimir mesmo as práticas pagãs. Os templos viraram igrejas, e os rituais começaram a ser ressignificados”, acrescenta ele.


Por isso que no ano de 496, o papa Gelásio I (410-196) estabeleceu que São Valentim deveria ser celebrado em 14 de fevereiro. A ideia não foi por acaso. Naquela época, cerca de um mês antes do início da primavera no hemisfério norte, a Roma Antiga tinha um festival chamado Lupercalia, um ritual pela fertilidade.


“Era um momento em que as pessoas se uniam intimamente, sexualmente, como um ritual religioso. O período indicava também o início do plantio e eles pediam bênção dos deuses para que fosse um ano fértil, de muita produção”, explica Domingues.


O papa quis enquadrar o que já existia dentro da moralidade cristã. “Ele queria acabar com isso e aí precisava criar uma identidade cristã para o ritual. Colocou São Valentim como o patrono dos apaixonados, dos casais”, pontua o vaticanista.


Domingues comenta que a escolha de Valentim pode ter sido aleatória. “Não tem um motivo até onde sabemos”, frisa. E as lendas cheias de histórias de amor podem ter sido criadas posteriormente.


Em Roma, a ideia de celebrar São Valentim é forte, tanto que na ponte onde acredita-se que São Valentim tenha sido martirizado era costume que os namorados fechassem um cadeado no poste e jogassem as chaves nas águas do rio.


Em 2014, o Papa Francisco reuniu 20 mil casais de 25 países diferentes na Praça São Pedro para celebrar a data, enfatizando a importância do “compromisso no casamento”.


Em Roma, a Basílica de Santa Maria em Cosmedin guarda em um relicário um crânio atribuído a São Valentim. Os restos mortais correspondentes estão na Basílica de São Valentim, na cidade de Terni — um dos personagens históricos que se tornaria São Valentim foi bispo de Interamna, hoje Terni, na Úmbria.

bernadetealves.com
Dia dos Enamorados é celebrado em 14 de fevereiro


O Dia de São Valentim é celebrado em boa parte do mundo como na Europa e Estados Unidos, e explorada por comerciantes e donos de restaurantes. Mesmo com origem muito anterior ao Dia dos Namorados no Brasil, aqui a tradição é pouco comemorada.


Segundo José Luís Lira, fundador da Academia Brasileira de Hagiologia , a principal culpa é de outro santo, Santo Antônio (1191-1231). Considerado o santo mais popular do Brasil, ele tem fama de casamenteiro. “Desde muito cedo, a devoção a ele foi trazida pelos franciscanos ao Brasil”, comenta o hagiólogo.


Como sua história diz que ele costumava ajudar às noivas que não possuíam dote a consegui-lo para poderem se casar, acabou se instituindo a véspera de seu dia, o 12 de junho, como o dia dos namorados. Era natural que sua fama de santo casamenteiro também o tornasse o santo padroeiro dos namorados.”


Como o AMOR é a única coisa que cresce à medida que se reparte é bom comemorá-lo sempre, não importa o motivo. Como diz Antoine de Saint-Exupéry, um dos mais amados escritores “O amor não consiste em olhar um para o outro, mas sim em olhar juntos para a mesma direção”.


Fotos: Reprodução, Nhac Nguyen e Striger /AFP