Gal Costa, uma das maiores vozes do Brasil, morre aos 77 anos

É com pesar que registro o falecimento da cantora e compositora Gal Costa, uma das maiores vozes do Brasil, aos 77 anos, na manhã de 9 de novembro em sua casa em São Paulo. A notícia foi dada pela assessoria da artista.
Consagrada como uma das maiores vozes do Brasil, a cantora Gal Costa deixa o filho Gabriel, de 17 anos, que inspirou o último álbum de inéditas. “A pele do futuro”, de 2018, o 40º disco da carreira. Em setembro Gal havia dado uma pausa em shows, para realizar uma cirurgia para retirar um nódulo na fossa nasal direita.
Gal estava em turnê com o show “As várias pontas de uma estrela”, no qual revisitava grandes sucessos dos anos 80 do cancioneiro popular da MPB. “Açaí”, “Nada mais”, “Sorte” e “Lua de mel” eram algumas das músicas do repertório.

Bem recebido pelo público e pela crítica, esse show fez com que a agenda de Gal ficasse agitada após a pandemia. A estreia aconteceu em São Paulo, em outubro do ano passado. Além de rodar o Brasil, Gal entrou na programação de vários festivais e ainda tinha uma turnê na Europa prevista para este mês de novembro.
O último álbum lançado foi “Nenhuma Dor”, em 2021, quando Gal regravou músicas como “Meu Bem, Meu Mal”, “Juventude Transviada” e “Coração Vagabundo”, com cantores como Seu Jorge, Tim Bernardes e Criolo.
O falecimento inesperado da musa da música brasileira repercutiu nas redes sociais. O governador da Bahia, Rui Costa, lamentou profundamente a morte de Gal e decretou luto oficial de três dias no estado. “Com sua partida, perdemos uma das mais potentes vozes da nossa música, eternizada em interpretações que cantam a Bahia e o Brasil para todo o mundo”.

O prefeito de Salvador, Bruno Reis, também postou nas redes sociais, pedindo que “Deus conforte seus familiares e fãs nesse momento de profunda dor”. “Perdemos uma das vozes mais lindas e representativas da música brasileira. Gal Costa é trilha sonora de vários momentos da vida de milhares de brasileiros. Seu jeito único de interpretar as canções está para sempre eternizado em nossos corações”.
Nas redes sociais, o cantor Gilberto Gil disse estar “muito triste e impactado” com a morte de Gal Costa. “Na hora em que recebi a notícia até me controlei porque a morte faz parte da vida, a gente sabe disso. A gente sempre procura e numa certa medida encontra o modo de deixar que a notícia da morte de um ente querido chegue de forma tranquila”.

Em vídeo, Maria Bethânia se emociona e relembra a amizade com Gal. “Nunca pensei que um dia ia chegar a vocês para falar sobre a dor de perder Gal”, disse.
Caetano Veloso se emocionou e chorou ao falar da morte de Gal. “A maior cantora do Brasil”, disse. “Fiquei muito abalado hoje. Nós ficamos com uma intimidade muito grande na música. Ela era libertadora para as outras mulheres e para nós homens, para todo mundo”, lembrou sobre os posicionamentos firmes da cantora ao longo da carreira.
Zélia Duncan também lamentou a morte da cantora. “Que vazio. Sem Gal Costa, que tristeza sem fim.” Djavan, outro compositor gravado diversas vezes pela baiana, também externou sua tristeza nas redes. “Inacreditável pensar na vida sem Gal”, escreveu em post no seu Instagram.

Gal Costa nasceu em Salvador em 1945, batizada de Maria das Graças Penna Burgos, segundo o Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, que conta de forma detalhada sua trajetória premiada na música nacional. Fã de bossa nova desde a adolescência, Gal fez seu primeiro show em 1964, na inauguração do Teatro Vila Velha, na capital baiana, já ao lado de nomes que lhe fariam companhia ao longo da carreira, como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Tom Zé.
Seu primeiro LP, “Domingo”, foi gravado em 1967, ao lado de Caetano Veloso e com produção de Dori Caymmi. Quando seu primeiro álbum individual foi lançado, em 1969, Gal já havia gravado sucessos icônicos de sua carreira, como “Divino Maravilhoso”, apresentado no IV Festival de Música Popular Brasileira, e “Baby”, que fez parte do LP Tropicália.
Com uma carreira de interpretações inesquecíveis, a cantora também marcou época quando, em 1975, gravou “Modinha para Gabriela”, para ser o tema da novela Gabriela, da TV Globo. No ano seguinte, Gal se uniu a Maria Bethânia, Gilberto Gil e Caetano Veloso para formar “Os Doces Bárbaros”, grupo que reuniu multidões em seus shows.

Ao longo dos mais de 57 anos de carreira, Gal Costa marcou com sua voz composições de grandes nomes da música brasileira, como ‘Aquarela do Brasil’, de Ary Barroso, ‘Festa do Interior’, de Abel Silva e Moraes Moreira, ‘Sonho meu’, de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho, ‘Pérola Negra’, de Luís Melodia, e ‘Chuva de Prata’, de Ed Wilson e Ronaldo Basto.
Um dos marcos de sua carreira, que influencia a música brasileira até hoje, foi ‘Fa-Tal’, álbum ao vivo lançado em 1971. O show foi filmado, mas nunca divulgado na íntegra. Em 2017, no documentário “O Nome Dela É Gal”, trechos da apresentação foram exibidos.

Ao longo dos anos 60 e 70, Gal seguiu misturando estilos. Dedicou-se ao suingue de Jorge Ben Jor com “Que pena (Ela já não gosta mais de mim)” e foi pelo rock com “Cinema Olympia”, mais uma de Caetano. “Meu nome é Gal”, de Roberto e Erasmo Carlos, serviu como carta de apresentação unindo Jovem Guarda e Tropicália.
Ao gravar “Pérola negra”, em 1971, ajudou a revelar o então jovem compositor Luiz Melodia (1951-2017). No mesmo ano, lançou “Vapor barato”, mostrando a força dos versos de Jards Macalé e Waly Salomão.
Sua discografia ainda tem outros destaques como ‘Cantar’ (1974), ‘Água Viva’ (1978), ‘Fantasia’ (1981), ‘Baby Gal’ (1983), ‘Gal’ (1992), ‘Recanto’ (2011), entre dezenas e dezenas de outros.
Gal gravou várias músicas de Gil e Caetano, e também incluiu no repertório versos de outros compositores como Cazuza (“Brasil”, 1998); Michael Sullivan e Paulo Massadas (“Um dia de domingo”, de 1985); e Marília Mendonça (“Cuidando de longe”, 2018).


Na longa carreira, Gal lançou mais de 40 álbuns entre discos de estúdio e ao vivo. “Fa-tal”, “Índia” e “Profana” foram três dos principais.
Siga em paz e brilhando, incomparável Gal Costa. Você parte mas seu legado permanecerá vivo em nossos corações.
Fotos: Marcos Hermes, Walter Firmo e Fernando Frazão/Agência Brasil