Tiradentes: símbolo da Inconfidência Mineira e patrono cívico da nação brasileira

bernadetealves.com
Tiradentes: Símbolo da Inconfidência Mineira e da luta contra a coroa portuguesa


O 21 de abril marca a morte de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, símbolo da Inconfidência Mineira. Ele foi enforcado em 1792 e, depois, esquartejado, por traição à coroa portuguesa. O movimento do qual fez parte era anticolonialista, lutava contra os impostos abusivos da coroa portuguesa e queria a instalação da República no Brasil.


Os conspiradores mineiros planejavam o fim da dominação portuguesa sobre o Brasil. Tiradentes e seus companheiros de conjuração lutavam para libertar o Brasil de Portugal e costumavam se reunir na casa do homem mais rico de Minas Gerais, o contratador João Rodrigues de Macedo e também na casa do comandante do Regimento de Cavalaria de Minas Gerais, Francisco de Paula Freire de Andrada. Como Tiradentes era o que tinha menos posse foi traído por Joaquim Silvério dos Réis, e entregue de “bandeja ” à coroa portuguesa.


Após ficar preso por 554 dias,em uma masmorra no Rio de Janeiro,Tiradentes foi enforcado em 1792, aos 46 anos, com cabelos brancos e corroído pelo abandono. Esquartejado, ele teve as partes do corpo expostas em diferentes locais públicos de Vila Rica, atual Ouro Preto, para “servir de exemplo”.


Segundo o livro ‘O Tiradentes – Uma biografia de Joaquim José da Silva Xavier’, de Lucas Figueiredo: “Depois de tentar ser muitas coisas na vida, de ensaiar constituir uma família, de sonhar em ficar rico e de almejar conquistar a independência de sua terra natal na primeira tentativa concreta dessa natureza na colônia, ele havia falhado. E agora se agarrava à devoção à Santíssima Trindade como último refúgio”.


“Se dez vidas tivesse, dez vidas daria”, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Antes de morrer, Jooaquim da Silva Xavier, que lutou contra a tirania e a opressão da coroa portuguesa, disse: “Jurei morrer pela independência do Brasil, cumpro a minha palavra! Tenho fé em Deus e peço a Ele que separe o Brasil de Portugal.”


Segundo a biografia, em um destes pontos em Ouro Preto, há hoje uma estátua e uma placa onde se lê “aqui em poste de ignominia esteve exposta sua cabeça”. A rota do inconfidente pela cidade está no livro ‘O Tiradentes – Uma biografia de Joaquim José da Silva Xavier’.


O jornalista Lucas relata que “Tiradentes era um homem normal. Mas ele teve uma vida muito interessante. Ele é muito mais do que um mito. Era um homem que buscava melhorar de vida, tinha vontade de empreender. Que teve muitas perdas e muitos recomeços”.


“No começo, Tiradentes se envolveu na trama pelo mesmo motivo da maioria de seus companheiros: insatisfação pessoal com a Coroa. Com o passar do tempo, já dentro do movimento, Joaquim adquiriu consciência política e compreendeu que a luta em que estava envolvia causas nobres, como a instalação da República e o fim da cruel dominação portuguesa”, segundo o biógrafo Figueiredo.


O professor do departamento de história da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luiz Villalta, que pesquisa o tema há quatro décadas, diz que entre os legados deixados pela Inconfidência Mineira estão “as falhas permanentes do poder judiciário, desde aquela época notabilizado por produzir injustiças”. Apesar de ter sido um movimento que pregava a liberdade, o professor destaca que os inconfidentes não tocaram na questão da escravidão em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. “Não tinham a menor sensibilidade social com os escravos”, explica.


O professor Luiz Villalta diz que o 21 de abril, é feriado em todo o país porque Tiradentes foi declarado patrono cívico da nação brasileira no dia 9 de dezembro de 1965, com a publicação da Lei de nº 4.897, no governo de Castello Branco.


O texto diz que a homenagem a ele pretende destacar que a condenação de Joaquim José da Silva Xavier não deve manchar a memória dele, que é “reconhecida e proclamada oficialmente pelos seus concidadãos, como o mais alto título de glorificação do nosso maior compatriota de todos os tempos”.


O Tiradentes além de mártir

bernadetealves.com
Tiradentes: Símbolo da Inconfidência Mineira e da luta contra a coroa portuguesa

Joaquim José da Silva Xavier nasceu na Fazenda do Pombal, onde hoje fica a cidade de Ritápolis, no Campo das Vertentes, em Minas Gerais, em 1746. Foi batizado no dia 12 de novembro, na capela de São Sebastião do Rio Abaixo, na comarca do Rio das Mortes. Era o quarto entre os sete filhos de Domingos da Silva dos Santos e Antônia da Encarnação Xavier.


Ainda jovem, aprendeu o ofício de prático, de “dentista”, de “tira-dentes”. De acordo com o escritor Lucas Figueiredo, Joaquim era muito bom no ofício. “Apesar de todos os obstáculos (ausência de formação acadêmica, carência de livros científicos, pacientes em estado agravado ou crítico, terapêutica limitada, falta de anestesia e precariedade dos instrumentos), Joaquim era um sucesso como tira-dentes”, diz o autor em seu livro.


Tiradentes também foi colono, caixeiro viajante, empreendedor e alferes. Conheceu o interior de Minas Gerais e o caminho entre a capitania e o Rio de Janeiro como poucos. Por causa disso, era um importante propagador das ideias da inconfidência. “Ele era uma ‘revolução em movimento’”, conta o escritor.


Um andarilho por natureza, Joaquim costumava andar pelas ladeiras de Vila Rica e participar ativamente da vida da cidade. Quem passa hoje por Ouro Preto ainda pode refazer os caminhos do alferes. Na Rua São José, conhecida como “rua dos bancos”, o casarão onde hoje funciona a Associação Comercial e Empresarial de Ouro Preto está no terreno onde existia a casa do inconfidente.


“Tiradentes morava em uma casa alugada (o proprietário era o padre Joaquim Pereira Magalhães). Nessa casa, Tiradentes viveu com Antônia Maria do Espírito Santo, 25 anos mais nova que ele, e a filha do casal, Joaquina. Detalhe, Tiradentes e Antônia não eram casados. A filha foi batizada na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar e na ocasião ele prometeu ao padre que ia se casar com a mãe dela, uma moça simples, mas de família tradicional”, relata o historiador.


“Em 31 de agosto de 1786, nessa igreja adornada com 434 quilos de ouro, Tiradentes e sua companheira, Antônia Maria do Espírito Santo, batizaram sua filha, Joaquina. Na cerimônia, Tiradentes confirmou em voz alta que ele era o pai da criança. Então, o padre Pantaleão da Silva Ramos pôs os santos óleos em Joaquina”, contou Lucas. Porém, Tiradentes não se casou com Antônia. Ele viajava demais. Era obcecado pela conspiração. Depois de voltar de uma de suas viagens, soube, em Vila Rica, da traição da companheira. Desiludido, ele decidiu devolvê-la à família.


Segundo o livro “A casa foi destruída em 1792 como parte da sentença judicial que condenou Tiradentes. Também por decisão dos juízes, após a destruição da casa, o terreno foi salgado para que nenhuma planta crescesse ali. Anos mais tarde, no terreno, foi erguido um sobrado que hoje abriga a Associação Comercial”, informa Lucas.


No livro há relatos que as reuniões da conjuração aconteciam em um solar, um dos edifícios mais majestosos da colônia, e servia ao mesmo tempo de loja de negócios (térreo) e residência (andares superiores). O solar tinha sete portas na fachada principal e 42 janelas voltadas para o exterior. Pertencia a João Rodrigues de Macedo, o mais rico de MG que recebia seus companheiros inconfidentes em volta de uma mesa de gamão, onde conversavam, divertiam-se e confabulavam contra à coroa portuguesa. O local ainda conserva o espaço da antiga senzala, onde cerca de 25 escravos se exprimiam e dormiam em piso de pé-de-moleque.


“Na noite do dia 26 de dezembro de 1788, numa sexta-feira chuvosa, Tiradentes e seus camaradas se reuniram na casa do comandante do Regimento de Cavalaria de Minas Gerais, Francisco de Paula Freire de Andrada, para discutir detalhes do plano da Conjuração Mineira. À luz de candeeiros, que iluminava as paredes cobertas de quadros, os inconfidentes discutiram vários pontos, acabar ou não com a escravidão, como seria a nova bandeira de Minas, como seria armada à resistência diante de uma possível reação de Portugal”. Traído por Joaquim Silvério dos Réis, foi preso em uma de suas viagens ao Rio de Janeiro.


Mágoa

bernadetealves.com
Praça Tiradentes em Ouro Preto, Minas Gerais

Joaquim estava magoado por não ter o seu trabalho como alferes reconhecido. Entrou no regimento militar ganhando 24 mil réis. Dez anos depois, continuava ganhando o mesmo. Ele era um bom militar, no posto de Alferes e também atuou como dentista, por isso a alcunha. Foi ai que tomou gosto pelos ideais de liberdade vindos da França e dos Estados Unidos, que tinham conquistado a independência poucos anos antes.


Segundo Lucas Figueiredo, Tiradentes tinha apreço pela leitura e pelo conhecimento técnico também tem destaque na personalidade de Tiradentes. Lendo obras estrangeiras e nacionais, montava suas próprias estratégias de intervenção. Ele circulava bem por diferentes grupos sociais e tinha uma alma inquieta. “Ele era alguém que queria muito vencer na vida, que acreditava que o esforço seria recompensado. Mas, ao mesmo tempo, uma pessoa muito teimosa e inocente. Às vezes, confuso; sempre generoso e com uma coragem infinita”, descreve Figueiredo.

Medalha da Inconfidência


A entrega da Medalha da Inconfidência, maior honraria concedida pelo governo de Minas Gerais, suspensa em 2020 e em 2021, por conta da pandemia de coronavírus, será retomada nesta quinta-feira (21), homenageando políticos, militares, médicos e desembargadores. A honraria máxima, o Grande Colar, será concedido neste ano ao senador mineiro Rodrigo Pacheco (PSD), Presidente do Congresso Nacional.


Fotos: Arquivo Público Mineiro/Reprodução e Thais Pimentel/G1